quarta-feira, 19 de setembro de 2007

nazistas

se ergues da justiça a clava forte,
verás que um filho teu não foge à luta,
nem teme, quem te adora, a própria morte.
fragmento do hino nacional da república federativa do brasil.

kelly samara carvalho dos santos queria conquistar o mundo. para atingir este objetivo, saiu de casa aos 15 anos, em pouco tempo adotou o nome de kelly tanchesi e passou a aplicar golpes e furtos em quem quer que caísse na sua frente. uma de suas últimas vítimas foi a aposentada campos de souza, de 84 anos. a pobre senhora fez o seguinte relato à folha de são paulo: "eu caí na rua, ela me ajudou e me levou até em casa. depois voltou para ver se eu estava bem, pegava o celular e fingia que conversava com o pai, que seria dono de loja da oscar freire, pedindo que ele me desse um emprego para eu ter uma atividade. um dia, sem eu perceber, roubou meu talão de cheques".

adolph hitler, que não perdia seu tempo esperando aposentadas caírem na sua frente, foi um pouco menos ambicioso, mas também queria conquistar o mundo. e ao contrário de kelly tanchesi, ele acreditava no que dizia. conquistar o mundo para ele significava torná-lo um lugar melhor para se viver. tal qual os brasileiros, ele acreditava que os seus risonhos lindos campos tinham mais flores e que seus bosques tinham mais vida. além, é claro, de também crêr que fazia parte de um povo distinto dos demais: o povo germânico era belo, forte, impávido, colosso e, acima de tudo, gigante pela própria natureza! hitler tinha, inclusive, uma teoria para explicar a natureza dessa grandeza:

“tudo neste mundo pode tornar-se melhor. toda miséria pode tornar fecunda a energia humana e toda opressão pode suscitar as forças que produzem um renascimento moral, enquanto se conservou o puro sangue. mas a perda da pureza do sangue destrói para sempre a felicidade interior, rebaixa o homem para sempre, tendo indeléveis conseqüências corporais e morais. é no sangue, exclusivamente, que reside a força ou fraqueza do homem. os povos que renunciam a conservar a pureza de sua raça renunciam à unidade de sua alma.”

não vim aqui defender sua teoria, o seu método, nem sua técnica de trabalho. isso seria o mesmo que lutar, por exemplo, contra o tabagismo ou o uso de drogas (o nazismo assumiu muitas formas ao longo das últimas décadas). minha intenção é demonstrar que a tese de hitler não era muito diferente da tese dos primeiros austrolopithecus. quando o macaco de kubrick descobre que um pedaço de osso pode se tornar uma arma, e que se jogada aos céus ela pode subitamente se transformar numa espaço-nave, ele estava fundando aquilo que seria o alicerce de todas as sociedades humanas: a idéia de que nós, em oposição ao outro, ao distante, ao diferente, somos seres dotados de uma superioridade indiscutível. até hoje, nos dias de festa, alguns dos bons selvagens de rosseau estão fraternalmente na amazônia saboreando funcionários da funai no tucupi. por que quando pensamos em termos humanitários sempre colocamos à frente de tudo, com gloriosa satisfação, nosso orgulho grupal?

a coisa toda começa no planeta, quando nos preocupamos com o que vai ser da coca-cola quando as fontes de água potável do mundo se esgotarem; passa pelo problema dos estados nacionais - e aqui cada um quer para sí a maior fatia do bolo, seja lá o que esteja ocorrendo na áfrica. e assim caminhamos em ordem descrescente até chegar no problema da suburbana que viu na tv que quando comprar roupas de estilistas famosos namorará, enfim, o fábio assunção. o que tudo isso deixa claro é que o nacionalismo e todos os seus parentes próximos são formas amplificadas de egocentrismo. mas acredito que isso todo mundo já sabe. o que ninguém sabe é que hitler nasceu na áfrica há duzentos ou trezentos mil anos e que o maior culpado pela eclosão da segunda guerra mundial foi o mickey mouse.

terça-feira, 18 de setembro de 2007

humildade

I
mas eu acho que no meu caso não é falta de humildade. eu só procuro ser verdadeiro comigo mesmo. meu psiquiatra não me conhece, mas eu me conheço. ontem, por exemplo, descobri que tenho mais de três defeitos.
scrap à madre teresa de calcutá.
s/d
II
antes que os bastiões da moralidade me expliquem que o garfo deve ficar na mão esquerda e a faca na mão direita, defendo-me com spinoza: "humildade não é virtude, mas contemplação da própria impotência".

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

o almoço

sexta-feira passada marquei com uns amigos passar o final de semana na praia. acordei cedo, preparei meu almoço, tomei banho, organizei a mochila, separei uns livros e só quando cheguei na parada de ônibus lembrei que tinha esquecido de almoçar. não preciso falar que quando voltei pro apartamento encontrei um defunto sentado em cima do fogão rindo da minha cara.

troféus

outro dia lucy in the sky with diamonds escreveu me provocando: "malcolm robinson e suas verdades axiomáticas, ou seria malcolm robinson e suas viagens lisérgicas?". hoje, foi a vez dela:
"eu nunca ganhei nada. só um terceiro lugar no intercolegiais. mas a culpa não era minha, era do esporte ser coletivo. minha mãe deveria ter me colocado na sinuca desde cedo. hoje estaria rica e cheia de troféus."

slogan

em “investigações filosóficas” wittgenstein afirma que o “significado de uma palavra é a sua utilização na linguagem”. tese controvertida. na última quinta-feira, em entrevista ao diário catarinense, um estelionatário nos mostra como isso funciona na prática:


repórter: vocês estão em quantos ai?

golpista: nós estamos aqui em seis.

repórter: vocês estão em um presídio?

golpista: é. estamos. nesse local ai mesmo. na faculdade mesmo.

repórter: só no mesmo presídio são vários golpes aplicados?

golpista: aqui comigo, na empresa, só tem eu. aqui tem outra empresa que tem dois. é tudo na mesma galeria. tudo no mesmo slogan.

monday

monday is a wonderful place to die.

gregor samsa

malcolm: nossa, meu domigo foi uma merda. acordei tetraplégico como um vegetal. preferia ter me transformado num monstruoso inseto.

marlene: eu também acordei assim e só conseguia realizar a fotossíntese. mas uma amiga me chamou pra comer chilli. aí quando vi, já tinham copos de chopp e de dry martini pela mesa. tinha voltado a ser gente.

sábado, 8 de setembro de 2007

a beata

pater noster,
qui es in caelis, sanctificetur nomem tuum.
adveniat regnum tuum.
fiat voluntas tua, sicut in caelo et in terra.
panen nostrum quotidianum da nobis hodie.
et dimitte nobis debita nostra, sicut et
nos dimittimus debitoribus nostri.
et ne nos inducas in tentationem: sed libera nos a malo.
amen.

hoje

hoje? não sei ainda. eu tava pensando em me matar, mas descobri que é muito difícil se matar no meu apartamento. não dá pra se jogar da janela. não tem corda, e se tivesse eu não teria onde me pendurar. eu não tenho armas de fogo. se esfaquear não parece muito legal. mas alguém me disse que se eu deixar a saída de gás do fogão aberta e me trancar na cozinha pode dar certo. mas o gás tem um cheiro insuportável. é o cheiro que eu sinto por todos os lados quando eu estou de ressaca. então, resolvi continuar vivo. ainda não sei o que vou fazer. qual é o plano?

scrap a juliette lewis.
08.IX.07

o mágico

a bíblia é um livro curioso. se tu falas com um católico e pedes pra ele te explicar o fenômeno da reprodução de um mamífero através de uma costela, ele vai logo dizendo, "calma, calma, isso é metafórico!". e depois eles ainda querem que tu acredites que jesus era mágico.

sexta-feira, 7 de setembro de 2007

etnia inferior

(...)

não vou nem comentar essa história de etnia inferior - não tem antrópologo escroto do mundo que diria uma coisas dessas! mas até que o verso é bonito. coloca ai mais dois ou três desses que dá pra compor um belo poema anti-modernista.

(...)

eu não quis refutar a tua tese sobre a etnia inferior. eu só disse que ficava bonito num poema. quem sabe de jornalista escrota tu não passas a poeta gente boa. acho que até o george bush compraria os teus livros!

(...)

por falar em fúzil em baixo do travesseiro, não me lembro onde li - mas foi ontem, ou quarta - uma matéria sobre um porco três metros e 500 kg - alguma coisa do tipo. o melhor de tudo foi a foto do porco (ou do elefante, não sei como os biólogos conseguem diferenciar um do outro) morto, e sobre seu corpo o algoz: um americano de 12 anos com um rifle na mão. sobre a violência, acho que é isso mesmo. fizeste uma arqueologia da violência nos estados unidos, mas pelo que tu falas, etnia inferior é a humana mesmo. conheço um cachorro, um personagem de quadrinhos chamado dogbert, que diz numa de suas tiras: "eu gostaria de ser editor. pegaria trabalhos que levaram anos para serem escritos e acabaria com eles com uma pinçelada de minha caneta". e depois, na última tira, olhando com desdém para o leitor: "acho que não gosto muito de gente". estou com hobbes, maquiavel, nietzsche e dogbert.

scraps à lilian witfibe.
s/d

cinema

fiz um curta em homenagem ao lennon. como é fácil virar cineasta, músico, escritor, hoje em dia (na quarta, vi uma entrevista do domenico de masi na cultura, em que ele conta que um amigo dele diz "eu não compro obras de arte abstratas! eu mesmo as faço!"). eu baixei um programinha e roubei as cenas do youtube (raríssimas). meu único trabalho de fato foi fazer a montagem. tentei fazer uns cortes do tipo “os idiotas”, e pronto. peguei uma das músicas dele, escolhi um fragmento e depois toquei de trás pra frente, com um efeito delay no começo e no fim, e ai está o meu curta. tô esperando a yoko ono me processar. mas se nada disso der certo, amanhã de manhã o "the albert hofmann's experience" estará lançando orgulhosamente seu primeiro álbum: a hard days night!

scrap à linda eastman.
s/d

árbitro de xadrez

ser árbitro de xadrez só é divertido quando alguém joga as peças pra cima, sai ofedendo todo mundo ou ameaça o adversário de morte (acredite, eu já vi tudo isso acontecer). normalmente é fazer cara de homem sério e honesto, e ficar andando pra lá e pra cá, fazendo de conta que está prestando atenção em tudo. eu prefiria arbitrar uma luta de boxe.

scrap à uma thurman.
s/d