sexta-feira, 22 de junho de 2007

televisão

quem me conhece sabe muito bem que amo os meus livros. entre originais e cópias, tenho mais de 300 deles espalhados pelo meu apartamento – fora os que estão perdidos em bibliotecas clandestinas de florianópolis e belém – e sei lá onde mais; essas coisas circulam. mas cheguei aqui para confessar que muitas vezes prefiro ler televisão. na maioria das vezes, ela é mais incisiva em suas discussões sociológicas do que muito livrinho metido a engenheiro do comportamento. se conseguirmos extrair o tom solene de suas falas, a única coisa que resta é um festival de asneiras com formalidade estética. mas não estou dizendo com isso que o povo é o super-herói desta disneylândia. neste tribunal inquisitório, mocinhos e bandidos estão destinados à fogueira. se isso fosse uma partida de xadrez, estaríamos diante de uma daquelas posições em que ambos os jogadores estão perdidos.

o que mais admiro na tv é sua capacidade de amplificar nossa mediocridade. a tv não cria nada de novo. é sintoma. febre. náusea. ao contrário do que as pessoas imaginam, foi o povo quem inventou o silvio santos. foi o povo quem inventou o tarcísio meira. foi o povo também quem planejou, desenhou e executou o projac. foi o povo quem inventou eu e você. hoje, ele deve estar ocupado com o acabamento de algum novo projeto. afinal, quem está com o poder? o cientista ou o monstro? o grande problema é que essa cambada de imbecis metidos a intelectuais se acham muito mais interessantes do que de fato são. ficam perambulando por ai balbuciando discursos que tem como uma única conseqüência delinear fronteiras culturais como faziam os nambiquaras até bem pouco tempo atrás. é como se a tv habitasse o lado oposto de um eixo horizontal que se inicia lá onde estes farsantes registram editorialmente suas mentiras.

mas não sejamos tão severos. outro dia, a rede globo anunciou a apresentação de uma música inédita do gonzaguinha, e depois, enquanto a música era executada (não por ele, mas por um desses grupinhos orgulhosos de sua higiene sonora), fiquei pensando onde estaria o áudio-original. e ele apareceu. não mais que uns poucos segundos. a gravação era abafada, a voz seca, mas era o original. logo depois, corte, e o grupinho voltou a executar a música. por que não executaram a canção inteira na voz do próprio gonzaguinha? pareceu-me o típico caso “cuidado com o que as crianças vão pensar!”. e isso de fato é um problema grave, porque ficamos o tempo inteiro com essa mania de fazer de conta que somos melhores quando estamos maquiados. será - como nos pergunta bernard shaw - que somos nós fascinando a todos com as nossas melhores roupas, ou somos nós escondendo os chinelos do olhar alheio? espero que quando o primeiro marciano botar os pés sobre a terra, encontre uma tv ligada pra entender um pouco mais sobre eu e você.

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