quinta-feira, 2 de agosto de 2007

terceira consciência

logo depois da final da copa do mundo do ano passado, parreira elaborou uma curiosa teoria sobre o fracasso da seleção brasileira: “é muito difícil montar um time com tantos craques”. segundo esta teoria, a seleção brasileira teria melhores o oportunidades se tivesse sido formada pelos jogadores do paysandu. outros seres vivos da espécie “sapiens” costumam elaborar teorias sobre si mesmo, não menos curiosas. durante a década de 60, como nos mostra marvin harris, “a bruxaria voltou retornou como fonte considerável de excitação”, sob o postulado “a liberdade humana inclui a liberdade de crer!”.

um dos gurus do movimento, cujo nome não me ocorre agora, declarava na época que salvaria o mundo dos mitos da consciência objetiva. charles reich, outro feiticeiro, falava em “terceira consciência” e que para alcançá-la o homem deveria “suspeitar profundamente da lógica, do racionalismo, da análise e dos principios”. o único caminho para colocar “fim ao crime, acabar com a pobreza, embelezar as cidades, eliminar a guerra, viver em paz em harmonia conosco e com a natureza é abrir nossos espíritos à terceira consciência”.

expansão da consciência, unificação dos pensamentos e viagens mentais, misturados a ácido, cogumelos e maconha, nos aproximaria de jesus, buda e mao-tsé-tung. e também poderia nos fazer voar como um abutre pelos desertos mexicanos, como carlos castaneda nos alega ter feito. de acordo com o índio don juan, o chefe de castaneda, “homens de conhecimento” não escrevem teses, mas saem por ai voando, encontrando-se com cachorros transparentes e luminescente ou dialogando com mosquitos de cem patas. para esses feiticeiros, “a razão é uma invenção do complexo militar industrial”.

todos eles exaltavam, jutamente com os hippies, a excelência da vida das sociedades tribais, por isso andavam com rosas na cabeça, pinturas nos corpos e roupas esfarrapadas e coloridas. a pobreza e a mendicância eram o caminho para a salvação. o dinheiro, ao contrário, traria a infelicidade e o sofrimento aos homens. provavelmente, os que sobreviveram a terceira consciência estão hoje sentados confortavelmente em seus gabinetes, escrevendo seus artigos em laptops bem sofisticados. mas há sempre os incorrigíveis. nos corredores de centros de humanas e filosofia de universidades federais, ainda corremos o risco de tropeçar num jovem feiticeiro fanático. haja insenso pra tanta metafísica.

2 comentários:

Unknown disse...

Acho que já fui, de quase tudo, um pouco... pelo menos por dentro. Perdi a conta de quantos encontros para elevar o espírito, transcender a matéria, estimular outros modos de consciência, e encontrar o caminho que me levaria à tranquilidade mental interna... já participei. Em todos fui por curiosidade e não por carência. Em todos eu vi gente fanática, gente tirando proveito do coffe-break, outros fazendo daquele momento o dia da iluminação, e no final sempre aparecia uma conversa de "cerca Lorenço" para uma contribuiçãozinha para a causa em questão. Fogueiras, incensos e abraços demorados, também eram comuns. Alguma coisa dentre de mim dizia que certos elementos do contexto misturados com a proposta não combinavam. Mas como todo mundo me chamava de cética, eu tentava realizar um trabalho de auto-reflexão e me esforçava para acreditar que faltava muito pra aprender a ser mais "evoluída". Hoje, nem a moda deles me afeta. Esses CFHasistas leram o Manifesto Comunista, a teoria do SOMA, e agem como adolescentes que têm como essência, contrariar... por medo de concordar com alguma coisa que identifique que ,no fundo, são iguais aos prórios pais - os caretas.Claro... tudo para expandir a terceira consciência, que não é a Freudiana, não é a Marxista, é a do Castelo de Caras.

Malcolm Robinson disse...

ênis! muito legal a postagem. pior que acabei me identificando com os "adolescentes que têm como essência, contrariar... por medo de concordar com alguma coisa que identifique que ,no fundo, são iguais aos prórios pais - os caretas". eu não me entendo. mesmo.