segunda-feira, 25 de junho de 2007

futebol, nazismo e identidade cultural

ontem fui a ressacada ver o jogo do paysandu contra o avaí pelo brasileirão. boa experiência. quando os jogadores entraram em campo e foram nos saudar, percebi que eles eram mais numerosos do que nós, os próprios torcedores. pensei que coisas do tipo só aconteciam em competições de xadrez. apesar disso, fazia tempo que eu não via tanto paraense reunido, e de vez em quando em me pegava pensando no que faz o paraense, paraense - tal qual já o fez roberto da matta em relação ao brasil. perguntei a amiga que me acompanhava, o que ela via de distintivo naquele povo. nada. perguntei se ela percebia alguns índios entre eles. também não. demorei um pouco, mas acabei entendendo que cocar, colares e pinturas faciais são bem diferentes de camisas de futebol. e que torcedores de futebol são o mesmo tipo de entidade carnavalesca, onde quer que estejam chacoalhando suas bandeiras.

o jogo foi bom, movimentado, e me senti bem em estar ao lado do meu povo, diante de milhares de avaianos fanáticos. ser minoria, especialmente num campo de futebol, dá um certo sentimento de heroísmo, de bravura. é uma coisa meio esquisita, mas está profundamente ligada aos devaneios desse tipo de mamífero que nós somos. a impressão que me passa é que nós estamos o tempo inteiro reescrevendo as páginas de “mein kampf” – aquele livrinho engraçado do hitler. nós não falamos alemão, mas as mentiras que nós contamos a nós mesmos são igualmente cômicas.

numa partida de futebol, isso tudo fica bem claro. de um lado, “os eleitos”, a quem seu deus lhes disse, “faça justiça!”; do outro, a própria “corporificação do mal”. nós estávamos, é claro, separados da “corporificação do mal” pelo alambrado - o que não impedia a mútua provocação entre os torcedores. em alguns momentos, a guerra entre as torcidas ficava mais interessante do que a própria partida. o ponto culminante disso tudo aconteceu quando a torcida do paysandu, depois de quase esgotar seu repertório de insultos e agressões verbais, passou a chamar em coro os torcedores avainos de gaúchos. “gaúcho! gaúcho! gaúcho!”. um dos torcedores do avaí, dos mais exaltados, se aproximou do alambrado e, com o dedo em riste, disse aos berros: “gaúcho, não! gaúcho não!”. entendi. comentários sobre os hábitos – digamos, irreverentes – de sua própria mãe, pode. gaúcho, não.


o paysandu perdeu o jogo. uma pena. duplamente. por que, em primeiro lugar, ganhar o jogo ali no centro do caldeirão avaiano seria um presente dos deuses. e depois, embora o avaí seja bicolor, como o paysandu, ele também é chamado por seus torcedores de leão. como aquele timinho paraense, que não lembro mais o nome.

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