após quase um ano, finalmente meu psiquiatra conseguiu me convencer de que eu estava errado. os efeitos colaterais do medicamento que eu tomava, como distúrbios de memória, relaxamento muscular, visão turva, entre outros, não estavam me divertindo tanto como antes. como todo bom paciente, segui suas orientações, recebi a receita, e, finalmente, comprei o medicamento conhecido no mundo do crime organizado como mirtazapina.
o plano elaborado por ele consistia em me tornar uma pessoa feliz em fantásticas duas semanas - plano, aliás, inventado por ele mesmo; eu apenas queria tomar algo mais divertido. além disso, sei lá o que uma "pessoa feliz" deve sentir. isso me deixou um pouco temoroso, mas segui adiante, com a esperança de que "ser uma pessoa feliz" poderia ser algo divertido. nunca se sabe.
duas semanas depois, lá estava eu com sonolência, depressão, pensamentos suicidas, movimento anormal dos olhos, dores musculares, depressão respiratória, dor de cabeça, fala mal articulada, tremor, vertigem, perda do equilíbrio, coordenação anormal e letargia. talvez ele tenha esquecido que o ansiolítico que eu tomava interagia negativamente com a mirtazapina. talvez ele tenha me confundido com outro paciente. talvez, como todo bom psiquiatra, ele não entenda nada de psiquiatria. ou talvez uma pessoa feliz seja assim mesmo.
já marquei consulta com outro profissional. provavelmente ele vai me recomendar outro "sei lá o que" com novas promessas "disso e daquilo", e, no final, eu pagarei a conta satisfatoriamente. espero que os efeitos colaterais do medicamento recomendado provoquem, ao menos, reações imprevisíveis como alucinações, delírios ou convulsões. e que a bula contenha advertências do tipo "este medicamento não deve em hipótese alguma ser consumido com álcool". assim vou poder dar continuidade ao tratamento e voltar a consumir meu gin com tônica em paz.