quinta-feira, 27 de março de 2008

velharias

da série "o brasil não precisa de teóricos; ele se auto-explica".
eu estava numa locadora de filmes quando não pude deixar de perceber o que parecia ser um estudante, ou algo do gênero, alertando uma garota: "o que tu tá fazendo? ai só tem velharia!". ela, constrangida, rapidamente dirigiu-se ao seu encontro na sessão "lançamentos". eu também estava procurando filmes nas prateleiras erradas, mas pelo menos tive tempo suficiente para escapar discretamente da locadora antes que alguém pudesse me identificar.

terça-feira, 11 de março de 2008

a reforma

publicado na folha de são paulo: "portugal aprova plano de reforma ortográfica". isso significa que em poucos anos, juntamente com os portugueses, todas as ex-colônias lusitanas deverão escrever suas asneiras cotidianas regidas sob os mesmos mandamentos ortográficos. entre as modificações propostas estão a inutilização de acentos em palavras como pára, pólo, feiúra, assembléia, jibóia, heróica, idéia, crêem, enjôo e vôo. o hífen e o trema vão para o tronco: não serão eliminados, mas tenho certeza que não gostarão muito da experiência. quando essa panacéia literária começar, eu alçarei um longo voo e pousarei numa colônia agrícola boliviana para exportar material de alta qualidade para a europa e os estados unidos. não quero estar aqui, quando todo mundo começar a rir da nossa cara.
o ministro das relações exteriores do brasil, celso amorim, ficou eufórico. ele não apenas apóia todo malabarismo que nos será exigido para que o pacotão lingüístico dê certo, como acredita que isso dará novo impulso a economia nacional. eu não entendo nada de economia, mas tinha a ilusão que crescimento econômico estava associado a fenômenos como diminuição do nível de desemprego, controle de inflação, e, pra mostrar meu nível de incompetência, nem consigo me lembrar de um terceiro exemplo (bem, talvez possamos pensar ai em reforma intelectual).
aparentemente as modificações propostas são tão inócuas que se realmente implantadas teremos todos que voltar à alfabetização, não para aprender a escrever corretamente, mas para que nossas professoras possam puxar nossas orelhas e nos fazer lembrar que há alguns anos cerca de 15 militares armados com metralhadoras, revólveres e fuzis prenderam uma mulher numa praia carioca, porque ela estava fazendo topless. alegação: atentado ao pudor. todo problema do rio de janeiro residia num par de seios.

se o lula soubesse ler, eu lhe enviaria uma proposta muito mais prática, barata e objetiva: elimine simplesmente o uso da crase.

terça-feira, 4 de março de 2008

psiquiatras

após quase um ano, finalmente meu psiquiatra conseguiu me convencer de que eu estava errado. os efeitos colaterais do medicamento que eu tomava, como distúrbios de memória, relaxamento muscular, visão turva, entre outros, não estavam me divertindo tanto como antes. como todo bom paciente, segui suas orientações, recebi a receita, e, finalmente, comprei o medicamento conhecido no mundo do crime organizado como mirtazapina.
o plano elaborado por ele consistia em me tornar uma pessoa feliz em fantásticas duas semanas - plano, aliás, inventado por ele mesmo; eu apenas queria tomar algo mais divertido. além disso, sei lá o que uma "pessoa feliz" deve sentir. isso me deixou um pouco temoroso, mas segui adiante, com a esperança de que "ser uma pessoa feliz" poderia ser algo divertido. nunca se sabe.
duas semanas depois, lá estava eu com sonolência, depressão, pensamentos suicidas, movimento anormal dos olhos, dores musculares, depressão respiratória, dor de cabeça, fala mal articulada, tremor, vertigem, perda do equilíbrio, coordenação anormal e letargia. talvez ele tenha esquecido que o ansiolítico que eu tomava interagia negativamente com a mirtazapina. talvez ele tenha me confundido com outro paciente. talvez, como todo bom psiquiatra, ele não entenda nada de psiquiatria. ou talvez uma pessoa feliz seja assim mesmo.
já marquei consulta com outro profissional. provavelmente ele vai me recomendar outro "sei lá o que" com novas promessas "disso e daquilo", e, no final, eu pagarei a conta satisfatoriamente. espero que os efeitos colaterais do medicamento recomendado provoquem, ao menos, reações imprevisíveis como alucinações, delírios ou convulsões. e que a bula contenha advertências do tipo "este medicamento não deve em hipótese alguma ser consumido com álcool". assim vou poder dar continuidade ao tratamento e voltar a consumir meu gin com tônica em paz.