quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

freio de mão

são paulo, aeroporto de guarulhos, chekin-in da TAM, 19 de dezembro de 2007, 19:43.

atendente: a senhora poderia deixar um telefone para contato?

marlene: 38 71 05 40, são paulo.

atendente: esse número é de quem?

marlene: é meu mesmo.

atendendente: não pode, senhora. tem que ser de um parente ou de um conhecido.

marlene: por que?
malcolm: porque o avião vai cair, marlene. eles precisam contar a novidade pra alguém.

atendente (irritada): não, não senhor. o avião não vai cair.

malcolm (para marlene): como é que ela sabe? os pilotos da TAM aprenderam pelo menos a puxar o freio de mão?

marelene (constrangida): é 38 45 73 21.

atendente: por gentileza, de quem é o número?

marlene: põe ai, maíra.

atendente: pode passar a bagagem. o senhor pode deixar um telefone para contato?
malcolm: pode ser o número dela?
atendente: ....
malcolm: marlene, qual é o teu número?

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

camundongos

marlene: falando nisso, o caderno "mais!" publicou uma entrevista com um antropólogo brasileiro falando sobre racismo no brasil. e tinha um artigo também sobre aquele comentário do watson, o descobridor do dna, que falou que brancos são mais inteligentes do que os negros. o mais engraçado é que pediram que ele desse um pouco do seu sangue pra análise e descobriram que a carga de genes africanos nele é 16 vezes maior do que a média dos europeus. esse valor é o mesmo de quem tem bisavôs negros. que ironia, não?!
malcolm: o dr. watson precisa aprender que não existem tantas diferenças entre homens e os camundogos - como já nos mostrou o genoma. os seres humanos, do ponto de vista genético, são todos irmãos gêmeos (embora alguns homens - como o próprio dr. watson - pareçam-se mais com camundongos mesmo). a negação do conceito de raça não é novidade. a antropologia já sabia isso desde que malinowski voltou com suas ficções das ilhas trobriand, em 1914. mas ninguém liga muito pro que os antropólogos falam. quando eu assumir o poder, até o papa vai se ajoelhar e me pedir a benção - e eu vou negá-la: "hóstia só para os ateus, por gentileza, peço que vossa santidade se retire da fila. próximo!"

sábado, 15 de dezembro de 2007

o emprego

malcolm: ...
alice: minha mãe anda me enchendo tanto o saco com essa história de procurar emprego que acabei distribuindo meu curriculum em tudo quanto é canto dessa ilha. tô apavorada! já imaginou se me contratam?!

a decisão

malcolm: a gente precisa conversar.

malcolm: qual é o problema dessa vez?

jung: eu posso dar uma sugestão?

malcom: não.

malcolm: não.

malcolm: continuando, tu tens que te decidir de uma vez por todas: ou eu, ou o rivotril.

malcolm: bem, tu queres que eu te ajude a procurar um apartamento?

hospital psiquiátrico

desconfio que meu apartamento anda roubando compulsivamente meus isqueiros. vou ter que interná-lo num hospital psiquiátrico ou chamar a polícia.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

publicitários

há quase 150 anos, marx já dizia: "o capital é insaciável". há quem ainda duvide? segue diálogo extraído dos comentários de uma de minhas postagens:
camisetas personalizadas: Oi, achei teu blog pelo google tá bem interessante gostei desse post. Quando der dá uma passada pelo meu blog, é sobre camisetas personalizadas, mostra passo a passo como criar uma camiseta personalizada bem maneira. Se você quiser linkar meu blog no seu eu ficaria agradecido, até mais e sucesso.(If you speak English can see the version in English of the Camiseta Personalizada.If he will be possible add my blog in your blogroll I thankful, bye friend).


malcolm: olá! também adorei o blog de vocês. estarei providenciando uma camiseta personalizada pra mim. ganhar o nobel de literatura e ter uma camisa personalizada sempre foram os dois maiores sonhos da minha vida. agora uma questão: se vocês gostaram do blog, como alegam, não perceberam que os textos foram escritos em português? anyway: pleased to meet ya.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

versões

a âncora de um telejornal local anunciou ainda há pouco a seguinte notícia: "a policia civil intensifica tráfico de drogas na capital". logo depois, nervosamente, se corrigiu alegando que se tratava "do combate ao tráfico". a primeira versão me deixou perplexo. pensei, enfim, que havia chegado o dia da grande revolução.

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

primeira página

o plano tinha dado errado, obviamente. eu era muito jovem, e não sabia que john f. kennedy era tão importante. mas muitos e muitos anos depois, logo que escapei da da prisão, tive a felicidade de reencontrar o recorte de um jornal francês que anunciava o assassinato, em primeira página - e como eu estava elegante sendo conduzido por tantas autoridades civis e militares.

octagenários

maria madalena: quem foi que falou em sexo aqui?! ah, claro, foste tu! não lembro de reclamar por não ser remunerada por fazer sexo. ao contrario, né?! afinal, não estou pensando em mudar pra essa profissão. o que eu queria era não trabalhar.

malcolm: mas casar com octagenário milionário é profissão.

maria madalena: pode ser, mas é uma espécie de não-trabalho. o único problema do octagenário milionário é que sexo também é ótimo. e ser infiel regularmente dá muito trabalho. e se o objetivo é não ter trabalho, então chega-se a um outro dilema.

a árvore

em diálogo com a postagem orações:
marlene: mucossolvan (tem genérico) é ótimo pra tosse. ele é mais potente do que os outros xaropes. é usado em casos de enfizema até. dá bem mais resultado do que vick ou mel com limão. acetilciteína. também tem genérico. é fluidificante das secreções do pulmão e da face. além de contribuir pra acabar com a tosse, melhora o problema do nariz entupído. foi a unica coisa até hoje que me alivou a sinusite. não tá com dor de garganta. ok. quanto a febre, não tens como saber. quer dizer, tens, mas não estás preocupado em querer saber. pra terminar, nimesulida em comprimidos. é anti-inflamatório das vias respiratorias. aliás, alivia a tosse e a dor de qualquer tipo. é isso. 150 reais à consulta ou um cave de mourville.

malcolm: achei isso tudo muito complicado. acho que vou mesmo é tomar um café e depois me dirigir prum boteco pra curar essa tuberculose de vez.

marlene: ah, é? então, tá bom. continuando: café e cigarro são ótimos pra dor de cabeça e pro estômago também. e cachaça é um ótimo analgésico. se nada disso der certo, uma árvore, uma corda e uma bela atitude resolvem defintivamente o teu problema.

o cineasta

segue um filme de minha autoria. depois de "morangos silvestres", eu o considero o maior filme da história do cinema. ele foi realizado hoje de madrugada, a partir de uma série de imagens assaltadas do youtube. recortei, editei, fiz a montagem e uma série de malabarismos dadaístas com um programa que eu não sei usar direito (provavelmente a melhor forma de trabalhar com arte hoje em dia). torturei tanto os fragmentos das imagens originais, que elas confessaram ter participado do filme por vontade própria. o general ernesto geisel ficaria impressionado com o meu método de trabalho.
a música é de minha própria autoria, e do mesmo modo foi gravada no meu quarto, com guitarra e um pedal vagabundo que produz uns efeitos esquistos, sob os quais eu não tinha nenhum controle. depois da "sinfonia nº5 em dó menor ", de ludwig van beethoven, eu a considero a maior composição de todos os tempos.
com vocês, "werther - the book":
ps. aconselho os espectadores aguardarem o download completo. trata-se de obra densa.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

ironia

a vantagem de usar a ironia como arma é que quando ela dá certo, tu podes seguir ir adiante; quando dá errado, tu escapas com a desculpa esfarrapada de que se tratava de mera anedota.

a porta

a principal porta de entrada para o mundo das drogas é a da casa do traficante.

insônia

malcolm: e ai? o que andas fazendo?

malcolm: o que é que tu queres ouvir?

malcolm: hein?

malcolm: o que é que tu queres ouvir?

malcolm: como assim? eu só perguntei o que tu andas fazendo.

malcolm: eu sei. eu percebi. afinal, o que é que tu queres ouvir?

malcolm: nada. esquece.

sábado, 8 de dezembro de 2007

moda

malcolm: como?

marlene: ele diz que “moda é o cérebro por fora”.

malcolm: esse alexandre herchcovitch não tá com nada. moda é o cérebro por fora?! um absurdo! reduz todo comportamento humano ao pano que nos cobre o corpo. muito simplista. e o que dizer de gente como o glauber rocha? que ele era retardado?

marlene: não, que era desleixado.

malcolm: o glauber? desleixado? em que sentido?

marlene: desleixado no sentido de se vestir, malcolm. isso se refletia na personalidade dele. um cara que se veste de forma desleixada, que não liga pra moda, pro consumismo. a moda reverbera uma característica da pessoa.

malcolm: como um cara desleixado pode criar uma obra como a dele? tudo bem, ele pode ter sido desleixado em relação à moda, mas com o seu trabalho ele era perfeccionista. só pra escolher o paulo autran pra participar de “terra em transe”, ele foi vê-lo atuando no teatro várias vezes, de diversos ângulos, com as mãos simulando um quadro, só pra entender se o cara funcionaria pro personagem que ele desejava. todo mundo é desleixado em relação a alguma coisa. o herchcovitch, por exemplo, é desleixado em relação a sua própria inteligência – e a nossa!

II

malcolm: eu falei que não o conheço, porque quando eu percebo que ele esboçou um começo de fala, eu mudo de canal, viro a página da revista, clico no link mais próximo. mas eu sei quem é. eu tenho uma conhecida que faz moda e além de, digamos, ingênua, é fanática por ele. acho que a roupa um canal de comunicação importantíssimo. respeito o universo e me interesso por ele. agora entendo muito bem o que ele quer dizer. eu não preciso falar aqui que esse tipo de gente se acha uma espécie superior? ou preciso?

marlene: se queres basear a discussão em julgamentos da ética alheia, então é melhor nem continuar mesmo. não tô aqui pra ficar divagando sobre se fulano tem o ego inflado ou não. o tema não é esse.

malcolm: marlene, sejamos sinceros, eu não preciso jantar com esse cara pra descobrir que não gosto das piadas dele.

inimigos

como bom cafetão literário, publico, em primeira mão, novos scraps lisérgicos de lucy in the sky with diamonds:

I

eu não apago meus scraps porque tenho inimigos no orkut - não os tenho. eu não gosto é de leitoras.

II

quando eu fazia yôga eu era flexível, agora eu sou só contraditória mesmo.

III

tô pensando em tirar meu útero pra ver se eu fico mais sagaz e esperta.

IV

se não jogaram a primeira pá de terra, então o buraco ainda pode ser considerado um lugar seguro.

ayahoasca

malcolm: é. o ayahoasca não é brincadeira.

lucy: uma amiga minha que o diga. antes ela era atéia, depois, em uma sessão no santo daime, teve uma viagem tão profunda que fraturou uma costela. desde lá ela é sincretista. reza até pra gnomo!

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

a oportunidade

"viva agora ou morra para sempre", disse-lhe o diabo. herzog agradeceu a oportunidade - não sem antes deixar escapar um leve sorriso no canto dos lábios - e decidiu-se pela eternidade.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

árvores

marlene: mas que idéia foi essa? como tu me cais de uma árvore em plena madrugada?

malcolm: eu sei lá que idéia foi essa. acho que estava procurando cogumelos. eu não me lembro direito. só sei que estou com o braço todo arranhando e andando como um aleijado.

marlene: eu é que não ía te impedir de procurar cogumelos em uma árvore. não perderia essa cena por nada! que doido! sempre quando eu começo a pensar que a humanidade tem salvação, alguém sempre chega e me prova que isso ainda é possível!

novelas

a novela produz um "modelo ideal" sobre o qual colocamos em diálogo os "modelos concretos" da vida cotidiana. a tendência natural é as garotas, depois de desligarem a tv, ficarem dizendo odiosamente uma às outras "olha, você não é a luana piovani!".

de um modo geral, o “homem civilizado” não se vê como real, mas como um espectro daquilo que almeja ser. ainda que as sociedades tribais tenham suas próprias novelas na forma de história oral, seus dramas não são interrompidos por intervalos comerciais - estes é que verdadeiramente dão os retoques finais na maquiagem dos personagens, e, por conseqüência, nos fazem sentir divorciados da espécie humana.

profissões

a maior frustração de minha infância não foi descobrir que papai noel não existe - pra mim isso era óbvio -, mas que mágicos não eram mágicos de fato, e sim, espécies de estelionatários. eu não sabia exatamente o que eram estelionatários, no entanto tinha uma vaga impressão de que eles não eram super-heróis como o pato donald. depois disso, fui informado que engenheiros eram melhores do que mágicos, porque além de existirem de fato, e não serem foras-da-lei como os estelionatários, podiam construir qualquer coisa que quisessem. dessa forma, eu obteria tudo o que desejasse: automóveis, espaçonaves, bombas atômicas, e, sobretudo, brinquedos. algum tempo depois, vieram as garotas, a adolescência, o movimento estudantil, as ciências econômicas (depois as sociais e a antropologia), e um certo descontentamento familiar por eu não ter me tornado um engenheiro civil ou, pelo menos, um super-herói.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

fobia

não sou pessimista em relação à humanidade. sou homo-sapiens-fóbico. não confio nem no papa. tenho certeza que durante o próximo dilúvio, afobados clérigos empurrando-se uns aos outros, num tumulto que deixará velhas beatas envergonhadas, serão os primeiros e os únicos a conseguirem entrar na arca de noé. a avareza cristã é a filha que o diabo pediu a deus.
sei que deve doer cair de uma verdade, mas aprendam a respirar em baixo d’água antes que seja tarde demais.

o plano imaterial

celeuma extraída dos comentários da postagem vegetarianos:

lucy: talvez não seja pelo peso que eles meçam a importância do animal, mas pela presença do sistema nervoso. os vegetarianos pensam que quem tem cérebro sofre e sente dor na hora do abate. eles sentem pena, aí se recusam a comer. se as micro-vacas tivessem cérebro, aí talvez eles parassem de comer maçãs - de comer qualquer coisa, na verdade. se alimentariam de amor, virariam espíritos de luz e iriam pro plano imaterial, que é o lugar deles.

malcolm: lucy, esqueceste do carlton, que comprovadamente tem vitamina c. como eles não gostam muito de mastigar, fumar não seria má alternativa ...

lucy: mas o carlton também possui micro-vacas pastando mais de 4.700 substâncias. e se eles não gostam de mastigar vacas, imagina carbonizá-las! pra eles, fumar um cigarro seria o mesmo que fazer um churrasco microscópico. creio que não aceitariam a alternativa alimentícia.

malcolm: é lucy, tenho que admitir que tu tens razão. eles não têm jeito mesmo.

o cérebro

I
marlene: não sei porque me lembrei de uma notícia de uma menina que nasceu sem cérebro. esses bebês geralmente morrem em duas semanas. só que a menina tá há nove meses viva. além disso, tá sendo usada como bandeira de luta pelos que são contrários ao aborto. agora, a menina não vê, não ouve, não fala, não sente dor, nem sabor, nem nada. pra que isso?!

malcolm: não tem ninguém lá dentro, né? então, ela é simplesmente um amontoado de pedaços de carne, com sangue em circulação por eles. o que eles querem com ela? esperar ela crescer e depois casar e ter filhos, como todo mundo? provavelmente os que estão defendendo essa garota nasceram sem cérebro também.
II
marlene: agora a igreja já tá dizendo que é um milagre ela estar viva. um sinal divino pra alertar a humanidade. mas alertar o que? que somos todos estúpidos e inviáveis? isso já é óbvio.

mentalidade superior

recentemente, entrei num fórum de discussão onde um indivíduo defendia a idéia de que os povos orientais, especialmente os japoneses, tinham uma mentalidade superior – o que explicaria seu alto nível de desenvolvimento tecnológico. talvez por isso o imperador fernandinho beira-mar os condena ao enforcamento em praça pública assim que eles pisam no rio de janeiro.

confabulações

eu não gosto de intelectuais, mas infelizmente às vezes eles têm razão. segundo claude lévi-strauss, existe uma certa tendência nos seres humanos à mitificarem o seu passado. é verdadade, tais mamíferos são animais curiosos mesmo. não podem nem ir na esquina comprar pão que voltam de lá inquietos e cheios de histórias fantásticas para contar. a verdade - seja lá o que isso signifique - deve ser algo insuportável mesmo. vejamos um retrato dessa tese, pelo pincel de millôr fernandes:

“volta e meia me vem a angústia de estar sempre comigo. eu gostaria muito de um dia poder ir a algum lugar em que eu não fosse ou não estivesse. pelo que falam dos lugares a que não vou, sem mim os lugares são mais interessantes.”

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

psicodélicos

quando biólogos estão entediados, ficam procurando idéias espalhafatosas para passar o tempo e ter o que contar à família na hora do jantar. em 1962, para inveja do doutor timothy leary, um pesquisador injetou no elefante tusko uma dose de LSD três mil vezes maior do que a usada para fins recreativos. tusko, num profundo exercício de introspecção mística, tombou, soltou alguns grunhidos e morreu em menos de uma hora. uma autêntica bad trip. o mais curioso de tudo foi a conclusão da pesquisa: elefantes são animais muitos sensíveis ao uso do LSD.

anônimos

I

até agora, entre os anônimos, pude identificar alguns tipos comuns de blogueiros:

1) os que escrevem postagens do tipo “meu querido, diário”, como se fossem importantes celebridades, e seus amigos realmente estivessem interessados em saber o sabor da pizza que eles pediram na noite passada;
2) os que transcrevem textos de seus escritores preferidos, e, em suas páginas, é sempre possível encontrar uma lista do tipo “os dez mais”;
3) os pseudo-literatos que sempre estão à caça de palavras obscuras para tentar confundir seus amigos com construções literárias que julgam serem densas e herméticas, de forma que pareçam escritores de difícil compreensão; como uma espécie de vingança pelos sentimentos que eles próprios sentem ao lerem escritores que eles não são capazes de compreender;
4) os críticos de arte, que com seus comentários repletos de adjetivos fazem fotologs parecerem verdadeiras obras-primas;
5) e, finalmente, os que nada têm a dizer, apesar de se iludirem acreditando que estão dizendo alguma coisa. acredito que estou enquadrado neste tipo. talvez, por essa razão, fui expulso da lista “vai, que eu garanto” de um blog paulistano que de tão meigo mais parece um bichinho de pelúcia (isso me deixou tão transtornando que estou pensando em transformar "as beatas" numa coletânea de textos do carlos drumond de andrade).
II

provavelmente ainda estar por surgir um novo modelo de blogueiros: os especializados em blogs de celebridades. the bloggers of celebrity's bloggers! aqueles que antigamente eram chamados simplesmente de fofoqueiros.


III

depois de me achar o flashman dos blogueiros e ter publicado quase trinta postagens em dois dias, tive que aumentar a dose diária do meu ansiolítico e tomar menos café pras pessoas não descobrirem que eu não tenho mais o que fazer da vida. este é o preço que se paga por não ser famoso. a vantagem de ser uma celebridade blogueira é que quando elas não estão desocupadas escrevendo em suas páginas (ou fingindo em algum lugar que são verdadeiros artistas), elas estão diariamente na televisão tentando nos convencer a obter produtos que, na maioria das vezes, nós não temos dinheiro para comprar.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

celebridades

só faltava essa. se não bastasse os insuportáveis anônimos do mundo inteiro, a nova mania entre celebridades é também registrarem importantes notícias sobre as suas vidas em blogs (sempre desconfiei que um dia essa história ia acabar mal). neles você pode descobrir surpreendentemente que regina duarte gosta mesmo é de led zepelin e pink floyd, que joana prado adora amamentar e que a cantora preta gil ganhou uma geladeira do ex-marido de marília gabriela.

os blogs de celebridades não se enquadram apenas no modelo “meu querido diário”. alguns são constituídos por fortes conteúdos ideológicos. o blog da ex-dançarina do grupo “é o tchan”, chamado curiosamente de “blog oficial da carla perez jesus te ama”, é praticamente uma convocação ao reino dos céus. o da cantora kelly key - que eu julgava erroneamente não saber ler nem escrever- nos revela importantes aspectos sobre a história do país em que vivemos. no dia 7 de setembro, ela escreveu sabiamente: “hoje é feriado! dia bom para descansar. mas, não podemos esquecer o significado deste dia. no dia 7 de setembro comemoramos o dia da independência do brasil! o dia da pátria, um dos fatos mais importantes para o nosso país, onde conseguimos a conquista de autonomia!”.

há também os que nos revelam, em primeira mão, importantes descobertas científicas, como o da ex-big brother brasil, fani BBB7: “podemos até identificar a postura de vida de uma pessoa pela sua leitura corporal. nosso corpo tem uma linguagem própria”. impressionante, não? e a cantora wanessa camargo, ecologista assumida, se lamenta: “preciso desabafar! aqui, nesse espaço onde ninguém, além de mim, escolhe, edita ou colhe palavras da minha boca. quero deixar clara minha posição sobre a neutralização do carbono”. após ler sua postagem, não ficou muito claro pra mim o que significa “neutralização do carbono”, mas confesso que fiquei estupefato. a brincadeira está apenas começando, mas já estou curioso pra saber como é que isso tudo vai terminar.

animais empalhados

durante a última copa do mundo, olhando-o sentado no banco de reservas ao lado de parreira, fiquei desconfiado que zagallo estava morto e o tinham empalhado. depois da copa, eu tive certeza disso. se não bastasse toda aquela onda mística em torno do número treze, o cara ainda me aparece para trabalhar morto?! os dirigentes deveriam ter terminado o serviço sujo e convocado o garrincha pra jogar na ponta-direita.

juntamente com a queda do paysandu para a quarta dimensão (nos termos de lucy in the sky), e a estranha teoria do professor parreira cujos fudamentos se baseiam na idéia de que é muito difícil montar um time quando se tem muitos craques nas mãos, este foi um dos motivos que me levou à desinteressar-me completamente por futebol.

mas como todo bom adicto, eu tenho minhas recaídas, e já estava procurando uma camisa do liverpool pra voltar a me tornar um torcedor de futebol quando descobri acidentalmente que o flamengo tinha ganhado a medalha de bronze no brasileirão. isso me fez desistir de mudar de time, mas quando percebi que na tabela de classificação ele tinha ficado a 16 pontos do vencedor, continuei perambulando por lojas de artigos esportivos.

domingo, 2 de dezembro de 2007

teorias

malcolm: muito do que os grandes literatos escrevem surgem de insights em mesas de bar. do ponto de vista antropológico é um ritual como qualquer outro. a experiência está em relevo. num ritual, tudo, cada gesto, cada palavra, ganha mais força e eficácia do que na vida cotidiana. é uma boa desculpa pra encher a cara, não?

marlene: mas eu bebo cotidianamente!

malcolm: então a centenária oposição “ritual-cotidano” está finalmente dissolvida! espera só um minuto, preciso telefonar pro claude lévi-strauss!

marlene: mas olha, pensando bem, não são cotidianos. são semanais apenas. tu e o lévi-strauss não precisam se preocupar em reformular as teorias de vocês por minha causa.

malcolm: grato. perdi um dado empírico revolucionário, mas ganhei uma significante economia em minha conta telefônica. velhos são como mulheres: falam demais.

paris hilton

eu sei que tu não és sociobióloga, eu não disse isso. de todo modo, não deve ser difícil ser uma. talvez vais ter que criar uma tese sobre o sexo entre as borboletas e sua relação com o último filme de paris hilton. escreva qualquer coisa que não tenha nenhum sentido, mas que seja suficientemente engraçada.

scrap à marlene dietrich.
s/d

placas

a substituição de todas as placas de estrada por outras com a informação “siga em frente” foi uma grande idéia de dan propper. tenho certeza que um dia ele ainda será lembrado como o maior engenheiro do século XX. mas a melhor placa que já vi na vida foi de uma imobiliária com os dizeres “aluga-se” pendurada bem na porta de entrada do apartamento de minha, agora, ex-vizinha. eu preferia ouvir as reclamações que ela me fazia semanalmente, do que a sua coleção de discos do ed motta.

gandhi

quando, em pleno inverno europeu, vi mahatma gandhi chegando na sede do parlamento britânico, de bermuda, camiseta e sandálias havaianas; engatilhei, apontei o rifle em sua direção, mas não tive coragem de atirar. fiquei pensando que aquele cara merecia continuar vivo.

o coreano

sobre os acontecimentos do dia 16 de abril de 2007, que culminou com o homicídio de 32 pessoas em uma universidade da virgínia, nos estados unidos da américa.

em primeiro lugar, é preciso entender que toda essa falácia sobre a americanização do mundo, ou do brasil mais especificamente, é um equívoco do pensamento comum. a gente até assume como imperiosa um certa necessidade de importação dos seus bens culturais - eles têm o dinheiro -, mas as coisas terminam por ai. americano nenhum vai se sentir em casa, atravessando as ruas de copacabana ou comprando o "não-sei-o-que-do-boto-cor-de-rosa", no ver-o-peso, em belém do pará. então, a gente não pode tentar explicar o que acontece com eles a partir das coisas que acontecem aqui, ou no azerbaijão. nós temos outro tipo de violência.
em segundo lugar, antes de qualquer coisa, é um problema cultural. o problema não está no indivíduo (é claro que é preciso que algumas coisas aconteçam na cabeça do cara pra ele sair por ai atirando em todo mundo), mas no sistema de símbolos que ele usa pra orientar o seu comportamento. estes símbolos são exteriores, não estão na cabeça de ninguém, mas trafegando por ai, perdendo e ganhando significado cotidianamente, como já nos explicou wittigenstein. passando da filosofia para antropologia, a culura passa a ser considerado um sistema de símbolos que serve para orientar o comportamento dos indíviduos, e sem o qual a experiência humana seria algo vazia, desprovida de significado, e perderíamos de vista, dessa forma, as fronteiras que delimitam aquilo que achamos que sentimos.

acredito que alguns dos símbolos ou sistemas de símbolos da cultura americana são os motivadores desse bang-bang todo. eu me refiro a "number one", "looser", "i'm good", "black and white", "popular", "time and money", entre tantos outros, que que se retirados do contexto do "american way of life", perdem completamente o significado. não tenho dúvidas: nenhum destes termos têm equivalentes em outras culturas. embora o brasil possa ser considerado sob alguma perspectiva uma “pátria de derrotados”, nós não encontramos “loosers” nele. ilustrando isso para não nos distanciarmos muito da superfície dos fenômenos, um taxista estava me falando outro dia: “a vida é uma merda, mas é bacana”. genial. quem conhece uma roda de samba, entende o que ele quer dizer com isso.

enfim, o coreano. eu não falei que só estes símbolos impulsionaram o cara a cometer o massacre. é claro que problemas psíquicos tem parte nisso tudo. mas um cara com o pau do mesmo tamanho (como é que tu me defendes uma tese dessas?!), mesmo abandonado pela namorada, talvez não fizesse a mesma coisa em terezina. então, o quadro psiquiátrico dele produziu um evento que apenas poderia ter sido realizado lá, nos estados unidos. às vezes, essas coisas acontecem em outros lugares (em são paulo tem o caso daquele cara do cinema – um incompetente, aliás; se o coreano, ou qualquer um que não fosse brasileiro, tivesse a mesma oportunidade, teria feito um trabalho mais eficiente), mas se tratam de fenômeno tão raros, que não podemos pensá-los em termos culturais (um aninal da espécie sapiens não deixa de ser considerado um bípede, apesar de eventualmente faltar-lhe uma ou duas pernas). o fato é que se tu reunires os principais símbolos do "american way of life", sob o pano de fundo da alta competividade e da paixão quase religiosa por armas de fogo, estarás constituindo às condições ideais para que a imprensa continue nos divertindo com os seus espetáculos de arte.
e-mail à lilian witfibe.
abril de 2007

campo minado

malcolm: será?

marlene: é claro que sim. a gente fala sobre lua, plutão, beatles e cultura de massas e quando vejo, já estamos relacionando isso com questões antropológicas. não sou só eu que fico puxando temas, né? tu também fazes isso. a questão, como já disse, é que tu sempre dá um jeito de me ludibriar e levar o papo pro campo minado da antropologia. ou tu achas que eu fico perdendo pernas e braços por aqui por causa dos teus belos olhos azuis?

crases

eu não tenho problemas com vírgulas, nem com crases. eu tenho problemas mentais.

scrap ao professor pasquale.
s/d

sábado, 1 de dezembro de 2007

estátua da liberdade

quando, logo na entrada de uma cidade do interior de santa catarina, encontrei uma réplica da estátua da liberdade tão perfeita que parecia ter sido extraída de um quadro fauvista de henri matisse, cheguei a uma conclusão: o brasil não precisa de teóricos; ele se auto-explica.

manchetes

toda vez que leio jornais, tenho a nítida impressão que estou sendo enganado. algumas manchetes parecem ser as mesmas que eu li no dia anterior.

a idéia

quando george bush percebeu que os americanos estavam desidratados e, por essa razão, precisavam beber mais petróleo, com muito esforço elaborou uma idéia que na hora julgou brilhante: “precisamos ensinar os árabes a falar inglês”. só que ele esqueceu de um importante detalhe: o processo de espetacularização da vida cotidiana. processo, aliás, criado pelos próprios americanos. tudo está sendo transformado em espetáculo. basta dar uma olhada nessa onda toda de “reality shows”, em missas de igrejas evangélicas ou num simples sermão do cantor marcelo rossi.
a principal questão da guerra hoje em dia não é a de quem mata mais militares ou civis, como há cinquenta anos; mas de quem é capaz de produzir o melhor espetáculo. os arábes, do ponto de vista meramente bélico, estão sendo massacrados pelos americanos, mas quem está vencendo a guerra são eles. os americanos matam cem; os arábes matam apenas um, mas com transmissão pela internet, e, coisa bonita, com ocidentais implorando pra voltar pra casa, um segundo antes de seus pescoços serem cortados.
e como os americanos vão superar o espetáculo árabe da queda das torres gêmeas com transmissão ao vivo para televisores de todo o mundo? depois da travessia do mar vermelho, este foi sem dúvidas o maior espetáculo já realizado na terra. bush conseguiu o que queria. hoje qualquer árabe sabe falar inglês fluentemente; e bin laden, produzir camapanhas publicitárias como nenhum americano foi capaz.

suástica

a suástica é o símbolo principal das bandeiras de todas as nações do mundo, incluindo a do estado de israel. para nós, que adoramos sermos bajulados como crianças, é dolorosamente difícil aceitarmos a idéia de que todo hino nacional tem requintes de crueldade - como tive a oportunidade de demonstrar em outro lugar. experimente pedir a filha de um judeu ortodoxo em casamento. nem o bill gates seria aceito na empresa.