sexta-feira, 30 de julho de 2010

a descoberta

outro dia, uma amiga estava tentando me convencer da confiabilidade do resultados de um desses documentários que uma vez por semana aparecem do nada divulgando descobertas tão extraordinárias que deixariam teses como a teoria da relatividade com cara de quem perdeu a piada. indo direto ao assunto, esta pesquisa alega ter descoberto que a noção que os seres humanos tem sobre “beleza” é universal. todas as discussões, brigas, intrigas e devaneios que se desenrolam sobre o tema durante o último século foram em vão. matisse? fauvismo? cubismo? o mictório de duchamp? panfletos dadaístas? salvador dali? pra quê? eles deveriam simplesmente parar de se mover inquietos de uma lado para o outro e esperar os norte-americanos chegarem com seus televisores para que suas inquietações parassem de rir de suas caras.

um dos métodos utilizados na pesquisa consistia em colocar um grupo de crianças na frente de um grupo do mais variado tipo de mulheres e esperar suas reações. uma espécie de concurso de miss universo com retoques de pedofilia. partindo do pressuposto de que a beleza atrai o olhar, a pesquisa mostrou que a maioria das crianças passaram a maior parte do tempo olhando para as mulheres que os pesquisadores consideravam as mais belas. a partir daqui, criava-se a soma do quadrado dos catetos que explicaria as motivações sob as quais os seres humanos se orientam para definir beleza. ok, parece que tem um povo que gosta mesmo da gisele bündchen, mas queria saber o que os filhos das mulheres-girafa acham disso. e se você acredita que tem seu próprio gosto pessoal é melhor procurar se informar um pouco melhor antes que a organização mundial de saúde descubra que você está olhando para as mulheres erradas.

por vezes, nossas concepções açoitam as próprias costas, sem notar que além de doloroso, não se trata de exercício muito elegante. isso fica claro quando dentro de nossas cabanas não percebemos que há muito a discussão já foi exaustivamente debatida, e além de muitas ramificações, tem muitos pontos pacíficos. todos estão de acordo, por exemplo, que na grécia antiga o superstar rocco ia vender muito mais filmes pornográficos do que hoje em dia. o mais curioso disso tudo, não é tanto o fato desses documentários ainda existirem (os americanos ainda existem), mas como com duas ou três frases estúpidas qualquer pessoa consegue nos confundir, a ponto de sairmos por ai deslumbrados divulgando notícias como a de que nicolau copérnico não passava de um humorista, e que a terra sempre esteve no centro do sistema solar.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

dogville

malcolm: ser paraense foi algo que me aconteceu. mas isso foi há muito tempo.

márcia : bom, isso nunca me aconteceu.

malcolm: marcinha, isso não é coisa do teu tempo. hoje em dia, nós temos orgãos de defesa da criança e do adolescente.

heinem: certamente de todos os estados do brasil que conheço, considerando seu povo, o do pará é sem dúvida um dos mais acolhedores e também um dos mais felizes..

malcolm: curiosamente, essa foi a impressão que tive sobre os sulistas quando fui morar em florianópolis.

ian: dogville tb era acolhedora no começo ...

paraense

paraense é aquele tipo de sujeito que mesmo quando arranja um emprego continua com cara de desempregado.

sábado, 10 de julho de 2010

viver a vida

depois de acompanhar atentamente a última novela da globo, minha mãe vive afirmando que eu tive uma vida muito fácil. faz sentido. tô pensando seriamente em amputar braços e pernas pra ver se me torno uma pessoa mais esforçada.

bom gosto

malcolm: que isso?!

luana: mas, eu quero só a pele!

malcolm: luana, a jaguatirica tá em extinção ...

luana: e o bom gosto também!

seleção de candidatos

da série o brasil não precisa de teóricos; ele se auto-explica.
publicado na folha de são paulo: "banida do esporte depois de ter sido flagrada em exames antidoping, a ex-nadadora rebeca gusmão vai tentar carreira política".

quinta-feira, 1 de julho de 2010

o elenco

depois de adriano aparecer em manchete de jornal com metralhadora na mão, vágner love ser filmando aos beijos e abraços com traficantes de drogas e o goleiro bruno não saber explicar onde enterrou o corpo da própria namorada, só falta a diretoria do flamengo anunciar a contratação de fernandinho beira-mar para compor o elenco rubro-negro.

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

o cerimonial

eu deveria ter usado paletó, gravata e todo o resto em respeito ao cerimonial. o fato é que depois de quase uma hora e meia na sala da assistência técnica, finalmente fui chamado pela atendente. após explicar o que tinha acontecido com o meu telefone, ela simplesmente apertou o botão "ligar" e tudo voltou ao normal. não recebi aplausos, mas meu psiquiatra me disse que eu merecia uma medalha de honra ao mérito. bem, pelo menos não foi uma televisão.

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

sapiens sapiens

outro dia, um canal de televisão estava exibindo um desses programas com testes sobre o comportamento de crianças. com auxílio de uma câmera escondida, a pesquisadora preparava um bolo de chocolate para um garoto de três ano de idade. sob alegação que deveria se retirar momentaneamente da sala, deixo-o sozinho na sala sob a condição de que ele prometesse não tocar no bolo. pouco tempo depois, a pesquisadora retornou para sala e perguntou ao garoto se ele havia se comportado conforme o prometido. com o rosto ainda todo lambuzado de chocolate, ele pensou um pouco, olhou para o teto, pensou mais um pouco, e em seguida balançou a cabeça afirmativamente. crianças. depois elas crescem, se reproduzem e continuam se comportando do mesmo modo.

brazilian dream

o nadador michael phelps andava meio endividado até ganhar oito medalhas de ouro nas últimas olimpíadas. na semana passada, ele fechou um contrato de 100 milhões de dólares com uma multinacional. os brasileiros ficaram perplexos. logo que receberam a notícia, todos eles não apenas pularam em suas piscinas plásticas pensando desesperadamente em bater este recorde, como estão se perguntando até agora como não haviam pensando nisso antes.

quinta-feira, 27 de março de 2008

velharias

da série "o brasil não precisa de teóricos; ele se auto-explica".
eu estava numa locadora de filmes quando não pude deixar de perceber o que parecia ser um estudante, ou algo do gênero, alertando uma garota: "o que tu tá fazendo? ai só tem velharia!". ela, constrangida, rapidamente dirigiu-se ao seu encontro na sessão "lançamentos". eu também estava procurando filmes nas prateleiras erradas, mas pelo menos tive tempo suficiente para escapar discretamente da locadora antes que alguém pudesse me identificar.

terça-feira, 11 de março de 2008

a reforma

publicado na folha de são paulo: "portugal aprova plano de reforma ortográfica". isso significa que em poucos anos, juntamente com os portugueses, todas as ex-colônias lusitanas deverão escrever suas asneiras cotidianas regidas sob os mesmos mandamentos ortográficos. entre as modificações propostas estão a inutilização de acentos em palavras como pára, pólo, feiúra, assembléia, jibóia, heróica, idéia, crêem, enjôo e vôo. o hífen e o trema vão para o tronco: não serão eliminados, mas tenho certeza que não gostarão muito da experiência. quando essa panacéia literária começar, eu alçarei um longo voo e pousarei numa colônia agrícola boliviana para exportar material de alta qualidade para a europa e os estados unidos. não quero estar aqui, quando todo mundo começar a rir da nossa cara.
o ministro das relações exteriores do brasil, celso amorim, ficou eufórico. ele não apenas apóia todo malabarismo que nos será exigido para que o pacotão lingüístico dê certo, como acredita que isso dará novo impulso a economia nacional. eu não entendo nada de economia, mas tinha a ilusão que crescimento econômico estava associado a fenômenos como diminuição do nível de desemprego, controle de inflação, e, pra mostrar meu nível de incompetência, nem consigo me lembrar de um terceiro exemplo (bem, talvez possamos pensar ai em reforma intelectual).
aparentemente as modificações propostas são tão inócuas que se realmente implantadas teremos todos que voltar à alfabetização, não para aprender a escrever corretamente, mas para que nossas professoras possam puxar nossas orelhas e nos fazer lembrar que há alguns anos cerca de 15 militares armados com metralhadoras, revólveres e fuzis prenderam uma mulher numa praia carioca, porque ela estava fazendo topless. alegação: atentado ao pudor. todo problema do rio de janeiro residia num par de seios.

se o lula soubesse ler, eu lhe enviaria uma proposta muito mais prática, barata e objetiva: elimine simplesmente o uso da crase.

terça-feira, 4 de março de 2008

psiquiatras

após quase um ano, finalmente meu psiquiatra conseguiu me convencer de que eu estava errado. os efeitos colaterais do medicamento que eu tomava, como distúrbios de memória, relaxamento muscular, visão turva, entre outros, não estavam me divertindo tanto como antes. como todo bom paciente, segui suas orientações, recebi a receita, e, finalmente, comprei o medicamento conhecido no mundo do crime organizado como mirtazapina.
o plano elaborado por ele consistia em me tornar uma pessoa feliz em fantásticas duas semanas - plano, aliás, inventado por ele mesmo; eu apenas queria tomar algo mais divertido. além disso, sei lá o que uma "pessoa feliz" deve sentir. isso me deixou um pouco temoroso, mas segui adiante, com a esperança de que "ser uma pessoa feliz" poderia ser algo divertido. nunca se sabe.
duas semanas depois, lá estava eu com sonolência, depressão, pensamentos suicidas, movimento anormal dos olhos, dores musculares, depressão respiratória, dor de cabeça, fala mal articulada, tremor, vertigem, perda do equilíbrio, coordenação anormal e letargia. talvez ele tenha esquecido que o ansiolítico que eu tomava interagia negativamente com a mirtazapina. talvez ele tenha me confundido com outro paciente. talvez, como todo bom psiquiatra, ele não entenda nada de psiquiatria. ou talvez uma pessoa feliz seja assim mesmo.
já marquei consulta com outro profissional. provavelmente ele vai me recomendar outro "sei lá o que" com novas promessas "disso e daquilo", e, no final, eu pagarei a conta satisfatoriamente. espero que os efeitos colaterais do medicamento recomendado provoquem, ao menos, reações imprevisíveis como alucinações, delírios ou convulsões. e que a bula contenha advertências do tipo "este medicamento não deve em hipótese alguma ser consumido com álcool". assim vou poder dar continuidade ao tratamento e voltar a consumir meu gin com tônica em paz.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

o trabalhador

entre 1932 e 1955, o algoz britânico albert pierrepoint executou na forca exatos 608 condenados. foi um homem trabalhador. mas não apenas isso: seu trabalho era levado à perfeição. a partir de dados como idade, peso, sexo e forma física do condenado, ele sabia exatamente a altura em que colocaria a corda para que a execução provocasse o que todo condenado deseja: morte instantânea. e ele sempre fazia questão de dizer que ali jazia o corpo de um inocente, já que o crime que praticara havia sido punido. além de trabalhador, foi um homem de bom coração.

santidade de festim

semana passada, li na edição brasileira da tradicional revista britânica "o buraco onde o animal se esconde" que o brasil tem mais blogueiros do que o camboja. em pouco tempo, estaremos superando angola; e com um pouco mais de pessimismo, o paraguai. mas o que mais me chamou a atenção foi o fato de alguns deles odiarem ser chamados de "blogueiros". em relato à revista, o paraense luis pantoja filho diz que se considera não uma blogueiro, mas "detentor de um blog". tudo isso em nome do que ele chama de "respeito às regras de nossa sociedade". achei a distinção curiosa. antigamente, todo mundo era chamado de maconheiro independente do tipo de droga que escrevia.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

sotaque escocês

as populações indígenas da amazônia vêm perdendo o humor e a paciência ao longo dos anos. não sem razão. nós estávamos voltando de uma festa em belém do pará, quando uma senhora meio esquisita se incomodou com o meu nome. segundo ela, minha mãe deveria me odiar por ter feito uma coisa dessas comigo. rapidamente, duas pessoas começaram a explicar que meu pai não era brasileiro, e que isso e aquilo, até que no meio do tumulto, não resisti e fui direto ao assunto: "tu tinhas que conhecer o nome do meu bisavô: sir i will fuck your mother robinson!". a reação foi imediata: "desçam já do carro!". pelo menos, eles não usam mais arco e flecha.

tortas

malcolm: mas mães são assim mesmo. sempre aparecem do nada com argumentos do tipo “quando eu tinha a tua idade". se idade fosse critério pra avaliação de sabedoria, era melhor pegar um atalho e ir diretamente aos argumentos de nossos tataravós - seja lá de que túmulo eles nos aconselhassem.

lucy: minha mãe deveria era ter me dito que eu poderia ser uma renomada chef de cozinha e não ter destruído meus sonhos. acho que hoje seria mais feliz fazendo tortas do que fazendo matérias.

a reportagem do século

numa matéria intitulada "brasília ano I: a reportagem do século", a revista manchete de 7 de maio de 1960 apresenta tanta bufonaria, que fica difícil acreditar não tratar-se de revista de anedotas. logo no ínicio da matéria - numa espécie de epígrafe - é publicado um fragmento do discurso do papa joão XXIII aos 150 mil brasileiros que testemunharam a inauguração da cidade: "brasília há de se constituir um marco miliário na história já gloriosa da terra de santa cruz". eu não entendi muito bem o que ele quis dizer com "miliário", muito menos com "gloriosa", mas tenho certeza que se ele soubesse no que viria a se tornar a capital da "terra de santa cruz", teria dito apenas "seja o que deus quiser" e voltado pra casa.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

o tratamento

antes desse tratamento com o rivotril, eu tomava uma garrafa de vodka antes de sair de casa pra ir pra uma festa. hoje em dia, não posso nem pensar em tomar cerveja que as coisas ao meu redor já começam a ficar esquisitas. mesmo assim, continuo tomando uma garrafa de vodka antes de sair de casa.

o santo

ontem de manhã, eu estava fazendo a barba quando percebi pelo espelho que tinha uma auréola flutuando sobre a minha cabeça. acho que lucy in the sky está certa: estou me transformando vagarosamente num personagem de desenho animado.

memória

malcolm: vai entender os caras ...

lucy: pois é. eu também não sei qual é o critério de escolha do animal que pode, ou não, ser comido. peixe! é claro! um bicho que nem memória tem! pode comer à vontade que eles não tão nem aí!

a queda

extraído dos comentário da postagem "freio de mão":

jef: isso tinha que ser filmado, ia virar hit no youtube.

malcolm: ia virar hit no youtube se o avião tivesse caído mesmo. voltando de belém, tentamos a gol - eles costumam cair na amazônia - mas por um erro da companhia, paramos em porto alegre, e voltamos pra florianópolis num vôo internacional, com mais de 150 argentinos. eu - puto da vida - ia repetindo pelo corredor "pelé, es lo mas grande" ...

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

a beata catarinense

no ano passado, os brasileiros foram presenteados com uma nova entidade religiosa: a catarinense albertina berkenbrock. ela foi assassinada, no dia 15 de junho de 1931, após uma tentativa de estupro. por ter lutado até a morte para preservar a sua integridade física e moral, a igreja católica afirma que ela agora se encontra em um local chamado misteriosamente de "paraíso" - que é onde vão morar as beatas, após o fim de suas vidas. por não terem sido igualmente beatificadas, provavelmente todas as outras brasileiras que passaram por situação semelhante devem ter se divertido muito durante o ato.

o trauma

publicado em revista de grande cirulação nacional. trata-se de uma entrevista com o famoso lutador vitor belfort. ele é o cara que estava outro dia em um programa de televisão - uma espécie de quiz show - quando lhe perguntaram se a palavra "sol" era monossílaba, dissíbala ou trissíbala. e ele respondeu: "trissílaba!". na época, o macaco simão escreveu na folha de são paulo: "tá certo! S.O.L! trissílaba!".
repórter: quais são os asuntos que você aborda em seu blog?

belfort: conto as novidades e o que está no meu coração. às vezes, escrevo "gente, estou num churrasco" só pra mostrar que a minha vida é comum.

repórter: o que está em seu coração?

belfort: um dos temas mais interessantes que abordei foi o da identidade. todo homem tem uma. viver é um modo de ser, diz o livro de antropologia que estou lendo.

repórter: quantas horas por dia você dedica ao blog?

belfort: ah, é tempo. minha mulher fala que escrevo rápido e não coloco acento, vírgula, mas estou falando com o coração. não dá pra interromper meu momento de expressão.

repórter: qual é o objetivo do blog?

belfort: quero invadir a casa das pessoas com meus valores. é um meio de o público saber quem é o vitor belfort e falar: "poxa, tem conteúdo. não é só uma massa de músculos". sou como o rocky balboa e o cinderella man.

repórter: quais são seus valores?

belfort: família, saúde e hombridade. estou na contra-mão do mundo, mas é como quero educar meus filhos. não vou deixar, por exemplo, que acreditem em papai-noel. não quero que eles sofram quando descobrirem que ele não existe. eu tive esse trauma, gente.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

peculiaridades

marlene: como não é questão de biologia?!

malcolm: olha, existem sociedades tribais onde as mulheres saem à caça e os homens cuidam das crianças e lavam a louça. é um tipo peculiar de organização social.

marlene: isso não é um tipo peculiar de organização social coisa nenhuma. isso é viadagem!

a empregada doméstica

isso não é um fragmento de um conto de franz kafka, um argumento de roteiro escrito por buñuel ou um texto de tristan tzara. nem eles, nem deus – a quem atribu-se a invenção do paraense, entre outros fenômenos não menos intrigantes - seriam tão criativos.
quando a polícia federal bateu na porta da empregada doméstica maria lúcia martins para buscar esclarecimentos sobre a sua vida empresarial, os vizinhos devem ter ficado impressionados. quem diria, hein? logo a dona maria!
segundo informações das autoridades responsáveis pelo caso, maria lúcia – que ganha um salário mínimo por mês - estava devendo cerca de cinco milhões e meio à diversas instituições financeiras. o fato aconteceu há dois anos, mas até hoje ela não pode nem sair de casa que os vizinhos já vão correndo atrás dela em busca de autógrafos.

versos íntimos

pra começar o ano com boas vibrações: "versos íntimos", de augusto dos anjos. resolvi transcrevê-lo em neo-miguchês para demostrar minha profunda admiração pelas idéias lingüísticas da nova geração, e pelo futuro brilhante que nos aguarda em 2008. segue:

veIxXx!!!!! nINGUeM aXXistiu Au FoRMidAVEU
enTeRrU DI TuAh ultiMAH kImEraH...... SoMEnti a IngrATiDauM - EstaH paNTEraH -
FOI TuAh komPANHeRaH INsEparaVEU!!!!!

acOSTumaH-tI A lamAh kI ti ESpeRAH!!!!!
u hOMEm...kI...nEStAH TerRAH miSErAVeu,
mORaH...entrE FERAxXx...senTi iNEViTAveU
NECeXXidaDi dI tb se FERAH......

toMaH 1 fOSforu...... acenDi teu CigARRu!!!!!
U bJu...miGuxXxu...eh a VeSperAh Du esCaRRu,
a MaUM Ki AFagah EH A mSM kI aPeDREJAH......

si A AlguEM KAuzah indaH pEnaH A tuah xXxagAh,
ApEDReJAh EXXAh mAuM viU KI tI AFAgaH,
eScARRAH nEXXAH bOcAH Ki tI bEiJAh!!!!!

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

freio de mão

são paulo, aeroporto de guarulhos, chekin-in da TAM, 19 de dezembro de 2007, 19:43.

atendente: a senhora poderia deixar um telefone para contato?

marlene: 38 71 05 40, são paulo.

atendente: esse número é de quem?

marlene: é meu mesmo.

atendendente: não pode, senhora. tem que ser de um parente ou de um conhecido.

marlene: por que?
malcolm: porque o avião vai cair, marlene. eles precisam contar a novidade pra alguém.

atendente (irritada): não, não senhor. o avião não vai cair.

malcolm (para marlene): como é que ela sabe? os pilotos da TAM aprenderam pelo menos a puxar o freio de mão?

marelene (constrangida): é 38 45 73 21.

atendente: por gentileza, de quem é o número?

marlene: põe ai, maíra.

atendente: pode passar a bagagem. o senhor pode deixar um telefone para contato?
malcolm: pode ser o número dela?
atendente: ....
malcolm: marlene, qual é o teu número?

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

camundongos

marlene: falando nisso, o caderno "mais!" publicou uma entrevista com um antropólogo brasileiro falando sobre racismo no brasil. e tinha um artigo também sobre aquele comentário do watson, o descobridor do dna, que falou que brancos são mais inteligentes do que os negros. o mais engraçado é que pediram que ele desse um pouco do seu sangue pra análise e descobriram que a carga de genes africanos nele é 16 vezes maior do que a média dos europeus. esse valor é o mesmo de quem tem bisavôs negros. que ironia, não?!
malcolm: o dr. watson precisa aprender que não existem tantas diferenças entre homens e os camundogos - como já nos mostrou o genoma. os seres humanos, do ponto de vista genético, são todos irmãos gêmeos (embora alguns homens - como o próprio dr. watson - pareçam-se mais com camundongos mesmo). a negação do conceito de raça não é novidade. a antropologia já sabia isso desde que malinowski voltou com suas ficções das ilhas trobriand, em 1914. mas ninguém liga muito pro que os antropólogos falam. quando eu assumir o poder, até o papa vai se ajoelhar e me pedir a benção - e eu vou negá-la: "hóstia só para os ateus, por gentileza, peço que vossa santidade se retire da fila. próximo!"

sábado, 15 de dezembro de 2007

o emprego

malcolm: ...
alice: minha mãe anda me enchendo tanto o saco com essa história de procurar emprego que acabei distribuindo meu curriculum em tudo quanto é canto dessa ilha. tô apavorada! já imaginou se me contratam?!

a decisão

malcolm: a gente precisa conversar.

malcolm: qual é o problema dessa vez?

jung: eu posso dar uma sugestão?

malcom: não.

malcolm: não.

malcolm: continuando, tu tens que te decidir de uma vez por todas: ou eu, ou o rivotril.

malcolm: bem, tu queres que eu te ajude a procurar um apartamento?

hospital psiquiátrico

desconfio que meu apartamento anda roubando compulsivamente meus isqueiros. vou ter que interná-lo num hospital psiquiátrico ou chamar a polícia.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

publicitários

há quase 150 anos, marx já dizia: "o capital é insaciável". há quem ainda duvide? segue diálogo extraído dos comentários de uma de minhas postagens:
camisetas personalizadas: Oi, achei teu blog pelo google tá bem interessante gostei desse post. Quando der dá uma passada pelo meu blog, é sobre camisetas personalizadas, mostra passo a passo como criar uma camiseta personalizada bem maneira. Se você quiser linkar meu blog no seu eu ficaria agradecido, até mais e sucesso.(If you speak English can see the version in English of the Camiseta Personalizada.If he will be possible add my blog in your blogroll I thankful, bye friend).


malcolm: olá! também adorei o blog de vocês. estarei providenciando uma camiseta personalizada pra mim. ganhar o nobel de literatura e ter uma camisa personalizada sempre foram os dois maiores sonhos da minha vida. agora uma questão: se vocês gostaram do blog, como alegam, não perceberam que os textos foram escritos em português? anyway: pleased to meet ya.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

versões

a âncora de um telejornal local anunciou ainda há pouco a seguinte notícia: "a policia civil intensifica tráfico de drogas na capital". logo depois, nervosamente, se corrigiu alegando que se tratava "do combate ao tráfico". a primeira versão me deixou perplexo. pensei, enfim, que havia chegado o dia da grande revolução.

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

primeira página

o plano tinha dado errado, obviamente. eu era muito jovem, e não sabia que john f. kennedy era tão importante. mas muitos e muitos anos depois, logo que escapei da da prisão, tive a felicidade de reencontrar o recorte de um jornal francês que anunciava o assassinato, em primeira página - e como eu estava elegante sendo conduzido por tantas autoridades civis e militares.

octagenários

maria madalena: quem foi que falou em sexo aqui?! ah, claro, foste tu! não lembro de reclamar por não ser remunerada por fazer sexo. ao contrario, né?! afinal, não estou pensando em mudar pra essa profissão. o que eu queria era não trabalhar.

malcolm: mas casar com octagenário milionário é profissão.

maria madalena: pode ser, mas é uma espécie de não-trabalho. o único problema do octagenário milionário é que sexo também é ótimo. e ser infiel regularmente dá muito trabalho. e se o objetivo é não ter trabalho, então chega-se a um outro dilema.

a árvore

em diálogo com a postagem orações:
marlene: mucossolvan (tem genérico) é ótimo pra tosse. ele é mais potente do que os outros xaropes. é usado em casos de enfizema até. dá bem mais resultado do que vick ou mel com limão. acetilciteína. também tem genérico. é fluidificante das secreções do pulmão e da face. além de contribuir pra acabar com a tosse, melhora o problema do nariz entupído. foi a unica coisa até hoje que me alivou a sinusite. não tá com dor de garganta. ok. quanto a febre, não tens como saber. quer dizer, tens, mas não estás preocupado em querer saber. pra terminar, nimesulida em comprimidos. é anti-inflamatório das vias respiratorias. aliás, alivia a tosse e a dor de qualquer tipo. é isso. 150 reais à consulta ou um cave de mourville.

malcolm: achei isso tudo muito complicado. acho que vou mesmo é tomar um café e depois me dirigir prum boteco pra curar essa tuberculose de vez.

marlene: ah, é? então, tá bom. continuando: café e cigarro são ótimos pra dor de cabeça e pro estômago também. e cachaça é um ótimo analgésico. se nada disso der certo, uma árvore, uma corda e uma bela atitude resolvem defintivamente o teu problema.

o cineasta

segue um filme de minha autoria. depois de "morangos silvestres", eu o considero o maior filme da história do cinema. ele foi realizado hoje de madrugada, a partir de uma série de imagens assaltadas do youtube. recortei, editei, fiz a montagem e uma série de malabarismos dadaístas com um programa que eu não sei usar direito (provavelmente a melhor forma de trabalhar com arte hoje em dia). torturei tanto os fragmentos das imagens originais, que elas confessaram ter participado do filme por vontade própria. o general ernesto geisel ficaria impressionado com o meu método de trabalho.
a música é de minha própria autoria, e do mesmo modo foi gravada no meu quarto, com guitarra e um pedal vagabundo que produz uns efeitos esquistos, sob os quais eu não tinha nenhum controle. depois da "sinfonia nº5 em dó menor ", de ludwig van beethoven, eu a considero a maior composição de todos os tempos.
com vocês, "werther - the book":
ps. aconselho os espectadores aguardarem o download completo. trata-se de obra densa.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

ironia

a vantagem de usar a ironia como arma é que quando ela dá certo, tu podes seguir ir adiante; quando dá errado, tu escapas com a desculpa esfarrapada de que se tratava de mera anedota.

a porta

a principal porta de entrada para o mundo das drogas é a da casa do traficante.

insônia

malcolm: e ai? o que andas fazendo?

malcolm: o que é que tu queres ouvir?

malcolm: hein?

malcolm: o que é que tu queres ouvir?

malcolm: como assim? eu só perguntei o que tu andas fazendo.

malcolm: eu sei. eu percebi. afinal, o que é que tu queres ouvir?

malcolm: nada. esquece.

sábado, 8 de dezembro de 2007

moda

malcolm: como?

marlene: ele diz que “moda é o cérebro por fora”.

malcolm: esse alexandre herchcovitch não tá com nada. moda é o cérebro por fora?! um absurdo! reduz todo comportamento humano ao pano que nos cobre o corpo. muito simplista. e o que dizer de gente como o glauber rocha? que ele era retardado?

marlene: não, que era desleixado.

malcolm: o glauber? desleixado? em que sentido?

marlene: desleixado no sentido de se vestir, malcolm. isso se refletia na personalidade dele. um cara que se veste de forma desleixada, que não liga pra moda, pro consumismo. a moda reverbera uma característica da pessoa.

malcolm: como um cara desleixado pode criar uma obra como a dele? tudo bem, ele pode ter sido desleixado em relação à moda, mas com o seu trabalho ele era perfeccionista. só pra escolher o paulo autran pra participar de “terra em transe”, ele foi vê-lo atuando no teatro várias vezes, de diversos ângulos, com as mãos simulando um quadro, só pra entender se o cara funcionaria pro personagem que ele desejava. todo mundo é desleixado em relação a alguma coisa. o herchcovitch, por exemplo, é desleixado em relação a sua própria inteligência – e a nossa!

II

malcolm: eu falei que não o conheço, porque quando eu percebo que ele esboçou um começo de fala, eu mudo de canal, viro a página da revista, clico no link mais próximo. mas eu sei quem é. eu tenho uma conhecida que faz moda e além de, digamos, ingênua, é fanática por ele. acho que a roupa um canal de comunicação importantíssimo. respeito o universo e me interesso por ele. agora entendo muito bem o que ele quer dizer. eu não preciso falar aqui que esse tipo de gente se acha uma espécie superior? ou preciso?

marlene: se queres basear a discussão em julgamentos da ética alheia, então é melhor nem continuar mesmo. não tô aqui pra ficar divagando sobre se fulano tem o ego inflado ou não. o tema não é esse.

malcolm: marlene, sejamos sinceros, eu não preciso jantar com esse cara pra descobrir que não gosto das piadas dele.

inimigos

como bom cafetão literário, publico, em primeira mão, novos scraps lisérgicos de lucy in the sky with diamonds:

I

eu não apago meus scraps porque tenho inimigos no orkut - não os tenho. eu não gosto é de leitoras.

II

quando eu fazia yôga eu era flexível, agora eu sou só contraditória mesmo.

III

tô pensando em tirar meu útero pra ver se eu fico mais sagaz e esperta.

IV

se não jogaram a primeira pá de terra, então o buraco ainda pode ser considerado um lugar seguro.

ayahoasca

malcolm: é. o ayahoasca não é brincadeira.

lucy: uma amiga minha que o diga. antes ela era atéia, depois, em uma sessão no santo daime, teve uma viagem tão profunda que fraturou uma costela. desde lá ela é sincretista. reza até pra gnomo!

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

a oportunidade

"viva agora ou morra para sempre", disse-lhe o diabo. herzog agradeceu a oportunidade - não sem antes deixar escapar um leve sorriso no canto dos lábios - e decidiu-se pela eternidade.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

árvores

marlene: mas que idéia foi essa? como tu me cais de uma árvore em plena madrugada?

malcolm: eu sei lá que idéia foi essa. acho que estava procurando cogumelos. eu não me lembro direito. só sei que estou com o braço todo arranhando e andando como um aleijado.

marlene: eu é que não ía te impedir de procurar cogumelos em uma árvore. não perderia essa cena por nada! que doido! sempre quando eu começo a pensar que a humanidade tem salvação, alguém sempre chega e me prova que isso ainda é possível!

novelas

a novela produz um "modelo ideal" sobre o qual colocamos em diálogo os "modelos concretos" da vida cotidiana. a tendência natural é as garotas, depois de desligarem a tv, ficarem dizendo odiosamente uma às outras "olha, você não é a luana piovani!".

de um modo geral, o “homem civilizado” não se vê como real, mas como um espectro daquilo que almeja ser. ainda que as sociedades tribais tenham suas próprias novelas na forma de história oral, seus dramas não são interrompidos por intervalos comerciais - estes é que verdadeiramente dão os retoques finais na maquiagem dos personagens, e, por conseqüência, nos fazem sentir divorciados da espécie humana.

profissões

a maior frustração de minha infância não foi descobrir que papai noel não existe - pra mim isso era óbvio -, mas que mágicos não eram mágicos de fato, e sim, espécies de estelionatários. eu não sabia exatamente o que eram estelionatários, no entanto tinha uma vaga impressão de que eles não eram super-heróis como o pato donald. depois disso, fui informado que engenheiros eram melhores do que mágicos, porque além de existirem de fato, e não serem foras-da-lei como os estelionatários, podiam construir qualquer coisa que quisessem. dessa forma, eu obteria tudo o que desejasse: automóveis, espaçonaves, bombas atômicas, e, sobretudo, brinquedos. algum tempo depois, vieram as garotas, a adolescência, o movimento estudantil, as ciências econômicas (depois as sociais e a antropologia), e um certo descontentamento familiar por eu não ter me tornado um engenheiro civil ou, pelo menos, um super-herói.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

fobia

não sou pessimista em relação à humanidade. sou homo-sapiens-fóbico. não confio nem no papa. tenho certeza que durante o próximo dilúvio, afobados clérigos empurrando-se uns aos outros, num tumulto que deixará velhas beatas envergonhadas, serão os primeiros e os únicos a conseguirem entrar na arca de noé. a avareza cristã é a filha que o diabo pediu a deus.
sei que deve doer cair de uma verdade, mas aprendam a respirar em baixo d’água antes que seja tarde demais.

o plano imaterial

celeuma extraída dos comentários da postagem vegetarianos:

lucy: talvez não seja pelo peso que eles meçam a importância do animal, mas pela presença do sistema nervoso. os vegetarianos pensam que quem tem cérebro sofre e sente dor na hora do abate. eles sentem pena, aí se recusam a comer. se as micro-vacas tivessem cérebro, aí talvez eles parassem de comer maçãs - de comer qualquer coisa, na verdade. se alimentariam de amor, virariam espíritos de luz e iriam pro plano imaterial, que é o lugar deles.

malcolm: lucy, esqueceste do carlton, que comprovadamente tem vitamina c. como eles não gostam muito de mastigar, fumar não seria má alternativa ...

lucy: mas o carlton também possui micro-vacas pastando mais de 4.700 substâncias. e se eles não gostam de mastigar vacas, imagina carbonizá-las! pra eles, fumar um cigarro seria o mesmo que fazer um churrasco microscópico. creio que não aceitariam a alternativa alimentícia.

malcolm: é lucy, tenho que admitir que tu tens razão. eles não têm jeito mesmo.

o cérebro

I
marlene: não sei porque me lembrei de uma notícia de uma menina que nasceu sem cérebro. esses bebês geralmente morrem em duas semanas. só que a menina tá há nove meses viva. além disso, tá sendo usada como bandeira de luta pelos que são contrários ao aborto. agora, a menina não vê, não ouve, não fala, não sente dor, nem sabor, nem nada. pra que isso?!

malcolm: não tem ninguém lá dentro, né? então, ela é simplesmente um amontoado de pedaços de carne, com sangue em circulação por eles. o que eles querem com ela? esperar ela crescer e depois casar e ter filhos, como todo mundo? provavelmente os que estão defendendo essa garota nasceram sem cérebro também.
II
marlene: agora a igreja já tá dizendo que é um milagre ela estar viva. um sinal divino pra alertar a humanidade. mas alertar o que? que somos todos estúpidos e inviáveis? isso já é óbvio.

mentalidade superior

recentemente, entrei num fórum de discussão onde um indivíduo defendia a idéia de que os povos orientais, especialmente os japoneses, tinham uma mentalidade superior – o que explicaria seu alto nível de desenvolvimento tecnológico. talvez por isso o imperador fernandinho beira-mar os condena ao enforcamento em praça pública assim que eles pisam no rio de janeiro.

confabulações

eu não gosto de intelectuais, mas infelizmente às vezes eles têm razão. segundo claude lévi-strauss, existe uma certa tendência nos seres humanos à mitificarem o seu passado. é verdadade, tais mamíferos são animais curiosos mesmo. não podem nem ir na esquina comprar pão que voltam de lá inquietos e cheios de histórias fantásticas para contar. a verdade - seja lá o que isso signifique - deve ser algo insuportável mesmo. vejamos um retrato dessa tese, pelo pincel de millôr fernandes:

“volta e meia me vem a angústia de estar sempre comigo. eu gostaria muito de um dia poder ir a algum lugar em que eu não fosse ou não estivesse. pelo que falam dos lugares a que não vou, sem mim os lugares são mais interessantes.”

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

psicodélicos

quando biólogos estão entediados, ficam procurando idéias espalhafatosas para passar o tempo e ter o que contar à família na hora do jantar. em 1962, para inveja do doutor timothy leary, um pesquisador injetou no elefante tusko uma dose de LSD três mil vezes maior do que a usada para fins recreativos. tusko, num profundo exercício de introspecção mística, tombou, soltou alguns grunhidos e morreu em menos de uma hora. uma autêntica bad trip. o mais curioso de tudo foi a conclusão da pesquisa: elefantes são animais muitos sensíveis ao uso do LSD.

anônimos

I

até agora, entre os anônimos, pude identificar alguns tipos comuns de blogueiros:

1) os que escrevem postagens do tipo “meu querido, diário”, como se fossem importantes celebridades, e seus amigos realmente estivessem interessados em saber o sabor da pizza que eles pediram na noite passada;
2) os que transcrevem textos de seus escritores preferidos, e, em suas páginas, é sempre possível encontrar uma lista do tipo “os dez mais”;
3) os pseudo-literatos que sempre estão à caça de palavras obscuras para tentar confundir seus amigos com construções literárias que julgam serem densas e herméticas, de forma que pareçam escritores de difícil compreensão; como uma espécie de vingança pelos sentimentos que eles próprios sentem ao lerem escritores que eles não são capazes de compreender;
4) os críticos de arte, que com seus comentários repletos de adjetivos fazem fotologs parecerem verdadeiras obras-primas;
5) e, finalmente, os que nada têm a dizer, apesar de se iludirem acreditando que estão dizendo alguma coisa. acredito que estou enquadrado neste tipo. talvez, por essa razão, fui expulso da lista “vai, que eu garanto” de um blog paulistano que de tão meigo mais parece um bichinho de pelúcia (isso me deixou tão transtornando que estou pensando em transformar "as beatas" numa coletânea de textos do carlos drumond de andrade).
II

provavelmente ainda estar por surgir um novo modelo de blogueiros: os especializados em blogs de celebridades. the bloggers of celebrity's bloggers! aqueles que antigamente eram chamados simplesmente de fofoqueiros.


III

depois de me achar o flashman dos blogueiros e ter publicado quase trinta postagens em dois dias, tive que aumentar a dose diária do meu ansiolítico e tomar menos café pras pessoas não descobrirem que eu não tenho mais o que fazer da vida. este é o preço que se paga por não ser famoso. a vantagem de ser uma celebridade blogueira é que quando elas não estão desocupadas escrevendo em suas páginas (ou fingindo em algum lugar que são verdadeiros artistas), elas estão diariamente na televisão tentando nos convencer a obter produtos que, na maioria das vezes, nós não temos dinheiro para comprar.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

celebridades

só faltava essa. se não bastasse os insuportáveis anônimos do mundo inteiro, a nova mania entre celebridades é também registrarem importantes notícias sobre as suas vidas em blogs (sempre desconfiei que um dia essa história ia acabar mal). neles você pode descobrir surpreendentemente que regina duarte gosta mesmo é de led zepelin e pink floyd, que joana prado adora amamentar e que a cantora preta gil ganhou uma geladeira do ex-marido de marília gabriela.

os blogs de celebridades não se enquadram apenas no modelo “meu querido diário”. alguns são constituídos por fortes conteúdos ideológicos. o blog da ex-dançarina do grupo “é o tchan”, chamado curiosamente de “blog oficial da carla perez jesus te ama”, é praticamente uma convocação ao reino dos céus. o da cantora kelly key - que eu julgava erroneamente não saber ler nem escrever- nos revela importantes aspectos sobre a história do país em que vivemos. no dia 7 de setembro, ela escreveu sabiamente: “hoje é feriado! dia bom para descansar. mas, não podemos esquecer o significado deste dia. no dia 7 de setembro comemoramos o dia da independência do brasil! o dia da pátria, um dos fatos mais importantes para o nosso país, onde conseguimos a conquista de autonomia!”.

há também os que nos revelam, em primeira mão, importantes descobertas científicas, como o da ex-big brother brasil, fani BBB7: “podemos até identificar a postura de vida de uma pessoa pela sua leitura corporal. nosso corpo tem uma linguagem própria”. impressionante, não? e a cantora wanessa camargo, ecologista assumida, se lamenta: “preciso desabafar! aqui, nesse espaço onde ninguém, além de mim, escolhe, edita ou colhe palavras da minha boca. quero deixar clara minha posição sobre a neutralização do carbono”. após ler sua postagem, não ficou muito claro pra mim o que significa “neutralização do carbono”, mas confesso que fiquei estupefato. a brincadeira está apenas começando, mas já estou curioso pra saber como é que isso tudo vai terminar.

animais empalhados

durante a última copa do mundo, olhando-o sentado no banco de reservas ao lado de parreira, fiquei desconfiado que zagallo estava morto e o tinham empalhado. depois da copa, eu tive certeza disso. se não bastasse toda aquela onda mística em torno do número treze, o cara ainda me aparece para trabalhar morto?! os dirigentes deveriam ter terminado o serviço sujo e convocado o garrincha pra jogar na ponta-direita.

juntamente com a queda do paysandu para a quarta dimensão (nos termos de lucy in the sky), e a estranha teoria do professor parreira cujos fudamentos se baseiam na idéia de que é muito difícil montar um time quando se tem muitos craques nas mãos, este foi um dos motivos que me levou à desinteressar-me completamente por futebol.

mas como todo bom adicto, eu tenho minhas recaídas, e já estava procurando uma camisa do liverpool pra voltar a me tornar um torcedor de futebol quando descobri acidentalmente que o flamengo tinha ganhado a medalha de bronze no brasileirão. isso me fez desistir de mudar de time, mas quando percebi que na tabela de classificação ele tinha ficado a 16 pontos do vencedor, continuei perambulando por lojas de artigos esportivos.

domingo, 2 de dezembro de 2007

teorias

malcolm: muito do que os grandes literatos escrevem surgem de insights em mesas de bar. do ponto de vista antropológico é um ritual como qualquer outro. a experiência está em relevo. num ritual, tudo, cada gesto, cada palavra, ganha mais força e eficácia do que na vida cotidiana. é uma boa desculpa pra encher a cara, não?

marlene: mas eu bebo cotidianamente!

malcolm: então a centenária oposição “ritual-cotidano” está finalmente dissolvida! espera só um minuto, preciso telefonar pro claude lévi-strauss!

marlene: mas olha, pensando bem, não são cotidianos. são semanais apenas. tu e o lévi-strauss não precisam se preocupar em reformular as teorias de vocês por minha causa.

malcolm: grato. perdi um dado empírico revolucionário, mas ganhei uma significante economia em minha conta telefônica. velhos são como mulheres: falam demais.

paris hilton

eu sei que tu não és sociobióloga, eu não disse isso. de todo modo, não deve ser difícil ser uma. talvez vais ter que criar uma tese sobre o sexo entre as borboletas e sua relação com o último filme de paris hilton. escreva qualquer coisa que não tenha nenhum sentido, mas que seja suficientemente engraçada.

scrap à marlene dietrich.
s/d

placas

a substituição de todas as placas de estrada por outras com a informação “siga em frente” foi uma grande idéia de dan propper. tenho certeza que um dia ele ainda será lembrado como o maior engenheiro do século XX. mas a melhor placa que já vi na vida foi de uma imobiliária com os dizeres “aluga-se” pendurada bem na porta de entrada do apartamento de minha, agora, ex-vizinha. eu preferia ouvir as reclamações que ela me fazia semanalmente, do que a sua coleção de discos do ed motta.

gandhi

quando, em pleno inverno europeu, vi mahatma gandhi chegando na sede do parlamento britânico, de bermuda, camiseta e sandálias havaianas; engatilhei, apontei o rifle em sua direção, mas não tive coragem de atirar. fiquei pensando que aquele cara merecia continuar vivo.

o coreano

sobre os acontecimentos do dia 16 de abril de 2007, que culminou com o homicídio de 32 pessoas em uma universidade da virgínia, nos estados unidos da américa.

em primeiro lugar, é preciso entender que toda essa falácia sobre a americanização do mundo, ou do brasil mais especificamente, é um equívoco do pensamento comum. a gente até assume como imperiosa um certa necessidade de importação dos seus bens culturais - eles têm o dinheiro -, mas as coisas terminam por ai. americano nenhum vai se sentir em casa, atravessando as ruas de copacabana ou comprando o "não-sei-o-que-do-boto-cor-de-rosa", no ver-o-peso, em belém do pará. então, a gente não pode tentar explicar o que acontece com eles a partir das coisas que acontecem aqui, ou no azerbaijão. nós temos outro tipo de violência.
em segundo lugar, antes de qualquer coisa, é um problema cultural. o problema não está no indivíduo (é claro que é preciso que algumas coisas aconteçam na cabeça do cara pra ele sair por ai atirando em todo mundo), mas no sistema de símbolos que ele usa pra orientar o seu comportamento. estes símbolos são exteriores, não estão na cabeça de ninguém, mas trafegando por ai, perdendo e ganhando significado cotidianamente, como já nos explicou wittigenstein. passando da filosofia para antropologia, a culura passa a ser considerado um sistema de símbolos que serve para orientar o comportamento dos indíviduos, e sem o qual a experiência humana seria algo vazia, desprovida de significado, e perderíamos de vista, dessa forma, as fronteiras que delimitam aquilo que achamos que sentimos.

acredito que alguns dos símbolos ou sistemas de símbolos da cultura americana são os motivadores desse bang-bang todo. eu me refiro a "number one", "looser", "i'm good", "black and white", "popular", "time and money", entre tantos outros, que que se retirados do contexto do "american way of life", perdem completamente o significado. não tenho dúvidas: nenhum destes termos têm equivalentes em outras culturas. embora o brasil possa ser considerado sob alguma perspectiva uma “pátria de derrotados”, nós não encontramos “loosers” nele. ilustrando isso para não nos distanciarmos muito da superfície dos fenômenos, um taxista estava me falando outro dia: “a vida é uma merda, mas é bacana”. genial. quem conhece uma roda de samba, entende o que ele quer dizer com isso.

enfim, o coreano. eu não falei que só estes símbolos impulsionaram o cara a cometer o massacre. é claro que problemas psíquicos tem parte nisso tudo. mas um cara com o pau do mesmo tamanho (como é que tu me defendes uma tese dessas?!), mesmo abandonado pela namorada, talvez não fizesse a mesma coisa em terezina. então, o quadro psiquiátrico dele produziu um evento que apenas poderia ter sido realizado lá, nos estados unidos. às vezes, essas coisas acontecem em outros lugares (em são paulo tem o caso daquele cara do cinema – um incompetente, aliás; se o coreano, ou qualquer um que não fosse brasileiro, tivesse a mesma oportunidade, teria feito um trabalho mais eficiente), mas se tratam de fenômeno tão raros, que não podemos pensá-los em termos culturais (um aninal da espécie sapiens não deixa de ser considerado um bípede, apesar de eventualmente faltar-lhe uma ou duas pernas). o fato é que se tu reunires os principais símbolos do "american way of life", sob o pano de fundo da alta competividade e da paixão quase religiosa por armas de fogo, estarás constituindo às condições ideais para que a imprensa continue nos divertindo com os seus espetáculos de arte.
e-mail à lilian witfibe.
abril de 2007

campo minado

malcolm: será?

marlene: é claro que sim. a gente fala sobre lua, plutão, beatles e cultura de massas e quando vejo, já estamos relacionando isso com questões antropológicas. não sou só eu que fico puxando temas, né? tu também fazes isso. a questão, como já disse, é que tu sempre dá um jeito de me ludibriar e levar o papo pro campo minado da antropologia. ou tu achas que eu fico perdendo pernas e braços por aqui por causa dos teus belos olhos azuis?

crases

eu não tenho problemas com vírgulas, nem com crases. eu tenho problemas mentais.

scrap ao professor pasquale.
s/d

sábado, 1 de dezembro de 2007

estátua da liberdade

quando, logo na entrada de uma cidade do interior de santa catarina, encontrei uma réplica da estátua da liberdade tão perfeita que parecia ter sido extraída de um quadro fauvista de henri matisse, cheguei a uma conclusão: o brasil não precisa de teóricos; ele se auto-explica.

manchetes

toda vez que leio jornais, tenho a nítida impressão que estou sendo enganado. algumas manchetes parecem ser as mesmas que eu li no dia anterior.

a idéia

quando george bush percebeu que os americanos estavam desidratados e, por essa razão, precisavam beber mais petróleo, com muito esforço elaborou uma idéia que na hora julgou brilhante: “precisamos ensinar os árabes a falar inglês”. só que ele esqueceu de um importante detalhe: o processo de espetacularização da vida cotidiana. processo, aliás, criado pelos próprios americanos. tudo está sendo transformado em espetáculo. basta dar uma olhada nessa onda toda de “reality shows”, em missas de igrejas evangélicas ou num simples sermão do cantor marcelo rossi.
a principal questão da guerra hoje em dia não é a de quem mata mais militares ou civis, como há cinquenta anos; mas de quem é capaz de produzir o melhor espetáculo. os arábes, do ponto de vista meramente bélico, estão sendo massacrados pelos americanos, mas quem está vencendo a guerra são eles. os americanos matam cem; os arábes matam apenas um, mas com transmissão pela internet, e, coisa bonita, com ocidentais implorando pra voltar pra casa, um segundo antes de seus pescoços serem cortados.
e como os americanos vão superar o espetáculo árabe da queda das torres gêmeas com transmissão ao vivo para televisores de todo o mundo? depois da travessia do mar vermelho, este foi sem dúvidas o maior espetáculo já realizado na terra. bush conseguiu o que queria. hoje qualquer árabe sabe falar inglês fluentemente; e bin laden, produzir camapanhas publicitárias como nenhum americano foi capaz.

suástica

a suástica é o símbolo principal das bandeiras de todas as nações do mundo, incluindo a do estado de israel. para nós, que adoramos sermos bajulados como crianças, é dolorosamente difícil aceitarmos a idéia de que todo hino nacional tem requintes de crueldade - como tive a oportunidade de demonstrar em outro lugar. experimente pedir a filha de um judeu ortodoxo em casamento. nem o bill gates seria aceito na empresa.

sexta-feira, 30 de novembro de 2007

o contrário

espero que o texto abaixo não provoque guerra entra nações vizinhas; nem que algum juíz, desprovido de senso-de-humor, me chame pra uma conversa em particular. ele é originalmente um scrap-resposta de lucy in the sky with diamonds. segue:

lucy: o contrário de brasileiro? boa pergunta. se formos pensar em termos de oponentes em guerras, como nazistas e judeus, penso que o contrário de brasileiro deva ser argentino, já que a única guerra em que o brasil se mete é futebol. mas podemos pensar em paraguaios, mas aí não é o contrário, é a involução da espécie.

homens

marlene: a merda é que vocês dominaram a gente por muitos séculos. isso foi péssimo pra todo mundo. se tivéssemos tido uma relação mais igualitária, hoje as mulheres aceitariam mais a liberdade sexual.

malcolm: pois é. não entendo como vocês ainda conseguem gostar de homens.

sorte do dia: você passará em uma prova de fogo que o tornará mais feliz

hussein: é claro que estou confiante. amanhã te convidarei pra tomar um tradicional chá árabe, e depois te contarei tranquilamente tudo sobre a minha prova de fogo. vou começar pela história da minha vida. mas não te preocupes, não me alongarei muito. vou cortar a parte de maomé, e outros trechos da idade média.
malcolm: o negócio é manter o otimismo mesmo, sadam. os americanos não são tão poderosos quanto parecem e esse julgamento não vai chegar a lugar nenhum. confie nas sábias palavras do teu oráculo virtual. aliás, o meu disse ontem alguma coisa sobre as minhas potenciais capacidades empresariais. depois do que eles te disseram sobre a tua prova de fogo, eu comecei a levá-los a sério. também estou otimista. vou abandonar o xadrez, a música e a antropologia, e abrir uma multinacional.

postagens

malcolm: sim, vou escrever a postagem. mas adianto que o grande salto na antropologia se deve ao perigo de sentimentos como "raiva", que parecem universais (provavelmente só amebas, carangueijos e monges não os sentem), se tornarem categorias vazias, porque se aplicadas em tudo quanto é canto perdem força teórica. se uma categoria téorica serve pra tudo, ela não serve pra nada em termos práticos, entende? todos as culturas tem instituições religiosas, políticas e econômicas. mas o que podemos dizer sobre os seres humanos a partir daí? que o papa joão bento XVI não responde aos meus e-mails porque não foi com a minha cara?

marlene: acho melhor esperar a postagem. ou então vou ter que parar de beber pra conversar contigo.

prazos

prazos? não, não, muito obrigado pela gentileza. eu acabei de jantar.

quinze minutos

marlene: olha, criatura! eu tenho que dormir! estou com sono!

malcolm: tá bom. já entendi. mas calma. tu estás repetindo isso há quinze minutos. ontem, eu passei quatro horas dizendo a mesma coisa.

(e a conversa se estendeu por outras quatro horas)

hipocondria

I
esse pessoal da administração do orkut parece que tá com hipocondria. quarta-feira passada deixaram minha conta do gmail fora do ar por 24 horas, segundo eles, para a minha própria segurança. cheguei a cogitar que finalmente meu talento estava sendo reconhecido - ou, ao contrário, que teria entrado acidentalmente numa rede internacional de prostituição. agora ficam colocando essas plaquinhas com alertas de segurança estúpidos: "nunca cole um URL ou script no seu navegador enquanto estiver conectado ao orkut, não importa o que ele lhe peça para fazer". ele quem? o orkut? ele fala?
eu me conheço. se eles continuarem assim, vou encher a minha página de URL's e scripts. e eu nem sei o que são URLs ou scripts.
II
e eles continuam: "não divulgue seu nome de usuário, sua senha e informações pessoais". sensacional! era justamente o que eu estava pensando em fazer. ainda bem que fui lembrado a tempo que isso não era uma atitude muito inteligente.

julho de 2007

ilusionistas

david coperfield e david blaine podem falar o que quiserem, mas jesus cristo era muito mais talentoso do que eles. o espetáculo da multiplicação dos pães era sensacional. e o que dizer do número da transformação da água em vodka?

orações

em resposta as tuas questões.

dor na garganta: não.
tosse: sim.
tosse seca: às vezes.
na migdala: isso eu não sei. porque eu não sei o que migdala.
na faringe: não.
nariz entupido: sim.
dor no corpo: sim
febre: talvez. eu não tenho termômetro, mas estou sentido muito frio. aliás, todo mundo aqui costuma sentir muito frio no inverno, e me parece que nem todos estão com febre.

aguardo livro de orações ou um padre, urgentemente.

scrap à marlene dietrich.
s/d

destino

eu estava brincando. eu também não acredito em destino. nem um ateu acreditaria numa bobagens dessas. o grande problema é que o povo tem esse velho cacoete de dizer "que foi o destino" sempre que alguém morre atropelado, ou coisas do tipo. eu também sei prever o futuro depois que ele aconteceu.
scrap à marlene dietrich.
s/d

família

de certa forma, o problema do casamento tradicional é que junto com os filhos, o pacote completo inclui prestações atrasadas, crises de insônia e uma mulher neurótica que depois de qualquer incidente vai ficar te lembrando que ela é a mãe dos teu filhos - como se isso ferisse algum artigo da declaração universal dos direitos humanos.

a fábula da hora final

segue alguns fragmentos, com pequenas alterações minhas, de um texto do poeta beatnik dan propper. o texto original foi publicado em 1958.

no 1º minuto da hora final, o arcebispo da rede globo de televisão decretou que moisés e maomé seriam considerados cristãos, enquanto buda seria riscado dos arquivos, em vista de suas tendências comunistas;

no 6º minuto da hora final, dois vândalos roubaram um helicóptero e substituíram a tocha da estátua da liberdade por um letreiro com dizeres obscenos. ao ser interrogada sobre a veracidade da acusação, a estátua sorriu maliciosamente e balançou a cabeça de maneira afirmativa;

no 8º minuto da hora final, as forças armadas desenterraram o corpo do soldado desconhecido e descobriram, para surpresa geral, tratar-se de adolf hitler;

no 11º minuto da hora final, uma delegação de viciados em drogas ofereceu-se voluntariamente para experiências médicas, com a condição de que novas drogas e o vírus do câncer fossem injetados em seus olhos;

no 14º minuto da hora final, quatorze milionários foram atraídos para um clube aparentemente inofensivo, onde foram esquartejados, aparecendo seis minutos mais tarde em quarenta e dois caixotes de comida pra cachorro;

no 25º minuto da hora final, um incêndio criminoso alastrou-se em uma plantação de maconha na floresta amazônica pondo completamente em transe o grupo de bombeiros voluntários que se arriscou na tarefa: diante disso, rumaram diretamente para belém, onde entraram empurrando o carro de bombeiros no meio de risadas, manifestando um tipo de alegria nunca visto antes;

no 28º minuto da hora final, descobriu-se que um remédio popular continha heroína. dezessete mil pessoas foram esmagadas e trezentas farmácias foram destruídas em conseqüência do pânico provocado por essa noticia;

no 32º minuto da hora final, dezesseis discos desconhecidos do tom zé foram desenterrados de uma adega em salvador. felizmente foram apreendidos pela polícia antes que pudessem espalhar a desordem e a incerteza;

no 41º minuto da hora final, todos os penicos foram encontrados de cabeça para baixo e a população ficou envergonhada;

no 47º minuto da hora final, a prostituição tornou-se completamente desnecessária;

no 48º minuto da hora final, todas as placas de estrada foram substituídas por outras com dizeres “siga em frente”;

no 52º minuto da hora final, uma das bombas de hidrogênio jogadas na amazônia derramou no ar chuva de papéis impressos onde se lia: “buuum”;

no 53º minuto da hora final, aldo paz apareceu na capa da revista caras com o pato donald e o silvio santos;

no 57º minuto da hora final, o uso da caixa registradora foi abolido;

no 58º minuto da hora final, os funcionários de escritório do mundo inteiro retiraram-se de circulação por motivo de doença;

no 59º minuto da hora final, todas as portas foram arrancadas de seus lugares e amontoadas em uma ruidosa fogueira, e somente as dobradiças foram poupadas para servirem de muda recordação a uma história triste e assustadora.

a salvação

como forma de neutralizar o problema do tabagismo no brasil sugiro a divisão do país em duas partes. na ocidental, ficariam os fumantes; na oriental, os não-fumantes. como parte do processo, deslocaríamos a parte oriental até a áfrica (segundo os geólogos, elas se encaixam), de maneira que um oceano separe amigavelmente uns dos outros. no continente africano, infelizmente, não tem comida, água, muito menos, cigarros. dessa forma, os não-fumantes estariam todos salvos.

woodstock corporation

a cena eu não vi. um capitalista fanático ultra-conservador dormindo abraçado ao último sobrevivente de woodstock deve ter sido não a cena mais dantesca do útimos tempos, mas de toda a história da humanidade! se a gente tivesse fotografado, o pessoal ia dizer que foi montagem! acho que nem o senhor poderia explicar tão inusitado evento. será o inverno, o álcool, o amor? talvez não. acho que os dois estavam com medo de mim.
scrap ao padre quevedo.
s/d

o anti-existencialismo

malcolm: como assim? às vezes tu ficas com preguiça de ser agressiva?

lucy: às vezes tenho prequiça de existir, quanto mais de ser agressiva! sério! de sábado pra domingo eu dormi 14 horas. sair da cama pra mim é um suplício!

máscaras

nancy: eu te ligo à tarde e então combinamos. mas me diz uma coisa, essa tua gripe passa? quero dizer, pega? porque passar, espero que passe mesmo. porque daí vou testar uma máscara que comprei num brechó em nova york, parecida com aquela usada pelo michael jackson (é assim que se escreve?). as pessoas dizem que fico linda quando uso a máscara. desconfio que não é um elogio.
malcolm: não é gripe não; é tuberculose. mas o george bush me garantiu que não passa. de todo modo, com a máscara do michael jackson tu sobreviverias até a chernobyl (é assim que se escreve?) ou a bomba de hiroshima (é assim que se escreve?). além disso, acho que é elogio mesmo. punks costumam gostar desse tipo de adereço. aposto que o syd já deve ter providenciado uma pra ele. será que encontro uma parecida no brasil? acho que vou precisar de uma quando for a são paulo.

síndrome das pernas inquietas

eu não sofro de praticidade, mas segundo a organização mundial de saúde a ausência deste distúrbio pode provocar a doença mental conhecida como “síndrome das pernas inquietas”. só o nome da enfermidade já deixaria escritores como edgar alan poe cheios de imaginações literárias. como medida preventiva, na próxima segunda-feira estarei providenciando paletó e gravata pra entrar numa academia de ambicionismo.

regras

malcolm: ok. entendi. mas então o que pode e o que não pode?

marlene: atum com batata pode. não pode é batata com macaxeira. nem atum com picanha. e jiló não pode nem sozinho.

reencarnação

a do bruxo africano, confesso, era blefe. mas como já te falei, no século XVIII, eu me chamava françois-andré danican philidor. também sei que fui alguém que morreu no começo dos anos 70. difícil saber quem era, porque quase todo mundo morreu neste período. também tenho vagas mas divertidas lembranças da época em que eu era um metazoário.

scrap à marlene dietrich.
s/d

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

humoristas

devo confessar que quando romário lutava desesperadamente para alcançar o que ele alegava ser o milésimo gol de sua carreira, fiquei torcendo pras coisas darem errado. não por inveja ou amor ao paysandu, mas porque seria divertido ver o constrangimento de um astro do futebol mundial sentado no banco dos réus de programas esportivos sofrendo gozações do tipo “e ai, romário? e o milésimo?”. embora não soubesse, ele não corria o risco de parar numa cadeira elétrica, mas o século XXI ia dar uma gargalhada tão volumosa, que, por toda eternidade, contar anedotas torna-se-ia uma tarefa desnecessária, e os humoristas do mundo inteiro perderiam seus empregos.

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

a máxima

sempre fui acusado de ser um cara desligado. quando criei a máxima “diga-me com quem andas que eu te direi quem és”, não imaginei que a frase ia ter tanta repercussão; nem mesmo que fizesse algum sentido. pra mim, se tratava de um aforismo pseudo-antropológico sem graça. mas outro dia, em plena segunda-feira, estávamos nos despedindo de grace slick, quando, depois de beijos e abraços, ela ainda nos acenou de longe dizendo: “bom final-de-semana pra vocês!”.

terça-feira, 27 de novembro de 2007

rituais

a descoberta do zero deve ter impressionado tanto os romanos que até hoje nós, que herdamos grande parte de seu exotismo, convidamos amigos e abrimos garrafas de champagne quando encontramos, à caminho de algum casebre comemorativo, este que é a representação gráfica do nada. rituais. o jogador de futebol romário, por exemplo, enganou a todos e a si mesmo celebrando o que seria o milésimo gol de sua carreira. acreditem, pra encontrar o zero ele contabilizou até os gols que fez nas categorias de base do vasco da gama. se eu tivesse contado os gols que fiz em asfaltos, várzeas ou nos tempos de escola, já estararia chamando a imprensa pra uma entrevista coletiva.
a busca obsessiva pelo zero (ou pelo números redondos, como normalmente se diz, e que dele decorrem) também produz alucinações, delírios e convulsões coletivas. com exceção do romário e da adriane galisteu, quase todo mundo sabe contar até mil, e no entanto, no final do ano de 1999, todos estavam serelepes e saltitantes comemorando a virada do milênio. até o papa joão paulo zero, que falava latim perfeitamente mas andou faltando algumas aulas de história e matemática na polônia, esqueceu que o calendário criado pelos romanos, por razões óbvias, começava no ano I do século I .
em outra direção, mas com o mesmo tipo de balbúrdia, os brasileiros comemoraram num autêntico carnaval de asneiras os 500 anos do suposto descobrimento do brasil. os zeros, os amigos e as garrafas de champagne foram importantes; o extermínio brutal de milhões de índigenas, não. depois que os refletores foram desligados, os latrocidas desceram do palco e ninguém mais tocou no assunto. mas daqui há pouco, em nome do zero, alguém aparece com um nova campanha repleta de alegorias sádicas.

e aqui estou, sentado na frente do computador tentando publicar esta que é a centésima postagem deste blog. sem idéias, deprimido e fumando incessantemente desde que comecei a escrever tortuosamente estas linhas. talvez quando acender o centésimo cigarro deste ritual, e a minha gastrite vagarosamente começar a me lembrar que ainda estou vivo, me ocorra alguma idéia interessante para celebrar coisa nenhuma.

sábado, 24 de novembro de 2007

good night

uma enfumaçada tarde no meu apartamento. diálogo entre lili barbon e o violinista érick klein:

lili (chorando) : nossa, não aguento mais a minha mãe! ela fica o tempo todo reclamando que eu passo o dia inteiro dormindo! que saco!
érick (indignado) : e ela, que passa a noite inteira dormindo?!

sábado, 10 de novembro de 2007

disneylândia

malcolm: a imprensa é a disneylândia da cultura nacional. diário catarinense: “funerária leva calote até de gente morta”. fiquei me perguntando o que antônio carlos magalhães deve estar aprontando por ai.
vidal: espera até o paulo maluf morrer. aí, sim, é que vai ser o inferno.

revolucionários

nos anos 80, os replicantes trouxeram ao cenário nacional a máxima "resolver os problemas do mundo é coisa de vagabundo". estou de pleno acordo. um pouco mais de malvados pra traduzir isso pros revolucionários de plantão:


elefantes

folha de são paulo: "elefantes se embriagam, derrubam poste e morrem eletrocutados". mais uma tragédia na história do rock'roll.

quarta-feira, 31 de outubro de 2007

vitamina c

marlene: lembrei porque campari é bebida de alcoólatra. é porque ele é feito à base de boldo.
malcolm: faz sentido. aliás, muito bom saber disso. já ouvi falar que boldo tem grandes propriedades medicinais. agora, pra quem se defende por ai alegando que carlton tem vitamina c, ninguém vai acreditar quando eu falar que camapari faz bem pro fígado.

sartre

consta que jean paul sarte e simone de beavouir embora casados jamais moraram juntos. hoje dividem o mesmo apartamento no cemitério de montparnasse, em paris.

terça-feira, 30 de outubro de 2007

audiência

depois de ler que na batalha sangrenta do último domingo o pica-pau venceu a rede globo de televisão e que um automóvel atropelou o cachorro de suzana vieira, pensei que ia morrer de tédio até que alguma reportagem realmente me chamasse a atenção. mas eis que a BBC noticia que o dr. albert hofmann foi eleito, pela global synectics, juntamente com tim bernes-lee, o maior gênio aindo vivo. a lista, formada por 100 personalidades, levou em conta fatores como aclamação popular, poder intelectual, realizações e importância cultural para eleger os vencedores. hofmann ficou à frente de gente como nelson mandela, steven hawking, garry kasparov, dalai lama, entre tantos outros. de um modo geral, a lista não me surpreendeu. o que achei injusto foi a ausência nela do cachorro de suzana vieira.

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

alquimia

malcolm: mas culinária é uma espécie de magia!

marlene: sim, culinária é mágica. sem contar que tem a metáfora com o caldeirão da bruxa, as porções mágicas, a alquimia de transformar porco morto e leite em molho à carbonara.

alta culinária

malcolm: a primeira coisa que eu pensei em me tornar quando criança era mágico. já imaginaste? na minha cabeça era tudo uma questão de dizer três ou quatro palavras estranhas, e, depois de uma pequena explosão, a torre eiffel apareceria na minha frente.
marlene: eu pensava em ser tanta coisa. chef de cozinha, astronauta, empregada doméstica ...

malcolm: mas tu ainda tens tempo de aprender os segredos da alta culinária comigo.

marlene: é malcolm, acho que tu ainda não desististe do teu sonho de ser mágico.

sábado, 27 de outubro de 2007

fiado

sorte de hoje: confiamos só em deus; quanto aos outros, paguem à vista.

marlene: mal o orkut sabe que aqui nem deus faz fiado!

o perfil

ontem à noite, falando com john lennon, descobri acidentalmente que lucy in the sky with diamonds tem um perfil no orkut. segue:

paixões: ilhas do oceano pacífico
esportes: com companheiro
atividades: tentando parar
livros: sim - moram comigo
música: excessivamente
filmes: clássico
cozinhas: multiétnico
programas de tv: prefiro que fiquem no zoológico

girafas

malcolm: vacas pastam grama mesmo?

marlene: sim. vacas pastam a grama. girafas é que pastam as árvores.

malcolm: que eu saiba vacas pastam o pasto.

marlene: e o pasto é feito de quê? de flores? de pedras? de sorvete?

malcolm: que eu saiba o pasto é feito de cogumelos.

castigo de deus

aquilo foi apenas o começo do castigo de deus. de resfriado acho que meu quadro evoluiu pra uma tuberculose aguda! tenho que escrever pelo menos um livro pra entrar na lista dos jovens tuberculosos mortos e famosos. será que blog vale? não, claro que não. blog ninguém lê!
scrap à maria madalena.
s/d

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

portas

I

a porta eu consertei. quer dizer, eu não - sou muito estúpido pra entender dessas coisas -, um amigo meu apareceu aqui com pregos e martelos e de uma hora pra outra a porta estava uma beleza! ficou até melhor do que antes! vou ver se arrebento as outras portas pra terminar o tratamento estético do apartamento.

II

minha sorte foi o pessoal da globo não ter aparecido pra acompanhar o acontecimento. não queria ver o william bonner fazendo comentários a meu respeito.

scraps à leila diniz.
s/d

mães

malcolm: o que é isso? não fale palavrões na minha página! minha mãe entra nela quase todos os dias!

marlene: ah é? bom, pelo menos ela deve saber que tu fumas cigarro, né?

malcolm: cigarro, maconha, cocaína, alcool, êxtase, lsd, cogumelos, ayahoasca, crack, peiote, rivotril, heroína, ela sabe. o problema é o palavrão.

homenagem

o nome do meu primeiro filho será carlton. carlton robinson. em homenagem à minha gastrite.

guilhotina

novos scraps lisérgicos de lucy in the sky with diamonds (ou seriam scraps axiomáticos?) :

I

a vida é que é errada. ela começa às 6 da manhã.

II

quanto a nunca acampar e fazer trilhas tudo bem. afinal, pra que ficar andando e andando no mato pra chegar no meio do nada e montar um lugar pra dormir mais desconfortável do que o chão da minha casa? não entendo. mas pior do que isso é escalar uma montanha. sinceramente, qual a graça em se matar pra subir um morro só pra ver a vista lá de cima?! euhein!

III

quando o sol engolir a terra, eu já vou ser espírito de luz. vou tá numa praia interestelar tomando banho de poeira cósmica e bebendo blody-stars ou dry-moons ou o que quer que se beba por lá!

IV

falando em guilhotina, me lembrei de ler que a pessoa continua consciente por alguns bons segundos depois que a cabeça é cortada, porque o sangue continua circulando e oxigenando os neurônios. deve ser uma viagem isso, né? já pensou? tua cabeça lá na cesta, pensando: "nossa! eu sou só uma cabeça!".

francesas

as mulheres só foram lutar por seus direitos recentemente porque eram mal informadas. há pelo menos dois mil anos elas já podiam procurar um emprego, deixar de apanhar e exigir divórcio. nesse período, já existiam condições práticas pra tal, embora culturalmente isso ainda estivesse no terreno do impensável. albert hofmann precisava inventar o lsd pras francesas queimarem seus sutiãs em praça pública. mas é claro que se fizessem isso no século XV o que ia ser queimado em praça pública seriam elas mesmas.
scrap à julliet lewis.
s/d

culpa judaico-cristã

eu não costumo tratar bem as pessoas quando eu tô bêbado. especialmente as que eu gosto. excesso de tolerância e educação às vezes é entendiante. e não me venha com essa história de culpa judaico-cristã que a gente não pode nem desejar "bom dia" pra um oriental que ele já se joga no chão te pedindo desculpas.
scrap à paris hilton.
s/d

amigos

verdadeiras amizades são instituições, às vezes, até mais complicadas do que casamentos. uma vez, estávamos eu e gregor samsa em minha casa. eu estava preparando torradas, ovos e suco de laranja. quando coloquei a primeira colherada de açúcar na bebida, gregor quase teve um ataque epilético. tive todo o trabalho de ter que espremer outras laranjas porque ele queria sentir o sabor natural do suco. quando os ovos ficaram prontos perguntei: “posso colocar sal, ou tu vais querer sentir o sabor natural dos ovos?”. três meses sem falar comigo.

dívidas

ter 70 anos hoje não é o mesmo que ter 70 anos daqui há meio século. quem estiver por lá, terá saúde e disposição. bem, os mortos vão emagrecer um pouco, mas pelo menos não terão dívidas pra pagar.
scrap à walter disney.
s/d

vegetarianos

eu não tenho nada contra quem não come carne, desde que eles não venham pra cima de mim empunhando bandeiras e cartazes. o detalhe é que existem animais microscópicos que eles comem sem saber, por exemplo, quando saboreiam inocentemente uma maçã. é verdade, eles não têm sangue, pulmão ou sindicato, mas são animais. e os vegetarianos os comem sem constrangimentos. então, não me venham com essa historieta de bondade e amor ao próximo. a vaca é uma só; numa maçã existem milhares delas pastando grama vermelha. ou é pelo peso que a gente mede a importância do animal?

evolucionistas

os antropólogos evolucionistas acreditavam no que eles chamavam de “unidade psíquica da humanidade”. em outras palavras, se temos o mesmo cérebro as repostas dadas ao meio tendem a ser semelhantes. dessa forma, as sociedades passariam por estágios sucessivos idênticos até atingirem o nível máximo de evolução cultural. no primeiro estágio tínhamos os selvagens (considerados seres quase sem cultura); no segundo estágio vinham os bárbaros (aqueles dos tacapes e dos casacos de pele); e no fim da história surgiam deslumbradas patricinhas com seus telefones celulares fabricados no japão.

scrap à marlene dietrich.
25.X.07

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

nazistas

se ergues da justiça a clava forte,
verás que um filho teu não foge à luta,
nem teme, quem te adora, a própria morte.
fragmento do hino nacional da república federativa do brasil.

kelly samara carvalho dos santos queria conquistar o mundo. para atingir este objetivo, saiu de casa aos 15 anos, em pouco tempo adotou o nome de kelly tanchesi e passou a aplicar golpes e furtos em quem quer que caísse na sua frente. uma de suas últimas vítimas foi a aposentada campos de souza, de 84 anos. a pobre senhora fez o seguinte relato à folha de são paulo: "eu caí na rua, ela me ajudou e me levou até em casa. depois voltou para ver se eu estava bem, pegava o celular e fingia que conversava com o pai, que seria dono de loja da oscar freire, pedindo que ele me desse um emprego para eu ter uma atividade. um dia, sem eu perceber, roubou meu talão de cheques".

adolph hitler, que não perdia seu tempo esperando aposentadas caírem na sua frente, foi um pouco menos ambicioso, mas também queria conquistar o mundo. e ao contrário de kelly tanchesi, ele acreditava no que dizia. conquistar o mundo para ele significava torná-lo um lugar melhor para se viver. tal qual os brasileiros, ele acreditava que os seus risonhos lindos campos tinham mais flores e que seus bosques tinham mais vida. além, é claro, de também crêr que fazia parte de um povo distinto dos demais: o povo germânico era belo, forte, impávido, colosso e, acima de tudo, gigante pela própria natureza! hitler tinha, inclusive, uma teoria para explicar a natureza dessa grandeza:

“tudo neste mundo pode tornar-se melhor. toda miséria pode tornar fecunda a energia humana e toda opressão pode suscitar as forças que produzem um renascimento moral, enquanto se conservou o puro sangue. mas a perda da pureza do sangue destrói para sempre a felicidade interior, rebaixa o homem para sempre, tendo indeléveis conseqüências corporais e morais. é no sangue, exclusivamente, que reside a força ou fraqueza do homem. os povos que renunciam a conservar a pureza de sua raça renunciam à unidade de sua alma.”

não vim aqui defender sua teoria, o seu método, nem sua técnica de trabalho. isso seria o mesmo que lutar, por exemplo, contra o tabagismo ou o uso de drogas (o nazismo assumiu muitas formas ao longo das últimas décadas). minha intenção é demonstrar que a tese de hitler não era muito diferente da tese dos primeiros austrolopithecus. quando o macaco de kubrick descobre que um pedaço de osso pode se tornar uma arma, e que se jogada aos céus ela pode subitamente se transformar numa espaço-nave, ele estava fundando aquilo que seria o alicerce de todas as sociedades humanas: a idéia de que nós, em oposição ao outro, ao distante, ao diferente, somos seres dotados de uma superioridade indiscutível. até hoje, nos dias de festa, alguns dos bons selvagens de rosseau estão fraternalmente na amazônia saboreando funcionários da funai no tucupi. por que quando pensamos em termos humanitários sempre colocamos à frente de tudo, com gloriosa satisfação, nosso orgulho grupal?

a coisa toda começa no planeta, quando nos preocupamos com o que vai ser da coca-cola quando as fontes de água potável do mundo se esgotarem; passa pelo problema dos estados nacionais - e aqui cada um quer para sí a maior fatia do bolo, seja lá o que esteja ocorrendo na áfrica. e assim caminhamos em ordem descrescente até chegar no problema da suburbana que viu na tv que quando comprar roupas de estilistas famosos namorará, enfim, o fábio assunção. o que tudo isso deixa claro é que o nacionalismo e todos os seus parentes próximos são formas amplificadas de egocentrismo. mas acredito que isso todo mundo já sabe. o que ninguém sabe é que hitler nasceu na áfrica há duzentos ou trezentos mil anos e que o maior culpado pela eclosão da segunda guerra mundial foi o mickey mouse.

terça-feira, 18 de setembro de 2007

humildade

I
mas eu acho que no meu caso não é falta de humildade. eu só procuro ser verdadeiro comigo mesmo. meu psiquiatra não me conhece, mas eu me conheço. ontem, por exemplo, descobri que tenho mais de três defeitos.
scrap à madre teresa de calcutá.
s/d
II
antes que os bastiões da moralidade me expliquem que o garfo deve ficar na mão esquerda e a faca na mão direita, defendo-me com spinoza: "humildade não é virtude, mas contemplação da própria impotência".

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

o almoço

sexta-feira passada marquei com uns amigos passar o final de semana na praia. acordei cedo, preparei meu almoço, tomei banho, organizei a mochila, separei uns livros e só quando cheguei na parada de ônibus lembrei que tinha esquecido de almoçar. não preciso falar que quando voltei pro apartamento encontrei um defunto sentado em cima do fogão rindo da minha cara.

troféus

outro dia lucy in the sky with diamonds escreveu me provocando: "malcolm robinson e suas verdades axiomáticas, ou seria malcolm robinson e suas viagens lisérgicas?". hoje, foi a vez dela:
"eu nunca ganhei nada. só um terceiro lugar no intercolegiais. mas a culpa não era minha, era do esporte ser coletivo. minha mãe deveria ter me colocado na sinuca desde cedo. hoje estaria rica e cheia de troféus."

slogan

em “investigações filosóficas” wittgenstein afirma que o “significado de uma palavra é a sua utilização na linguagem”. tese controvertida. na última quinta-feira, em entrevista ao diário catarinense, um estelionatário nos mostra como isso funciona na prática:


repórter: vocês estão em quantos ai?

golpista: nós estamos aqui em seis.

repórter: vocês estão em um presídio?

golpista: é. estamos. nesse local ai mesmo. na faculdade mesmo.

repórter: só no mesmo presídio são vários golpes aplicados?

golpista: aqui comigo, na empresa, só tem eu. aqui tem outra empresa que tem dois. é tudo na mesma galeria. tudo no mesmo slogan.

monday

monday is a wonderful place to die.

gregor samsa

malcolm: nossa, meu domigo foi uma merda. acordei tetraplégico como um vegetal. preferia ter me transformado num monstruoso inseto.

marlene: eu também acordei assim e só conseguia realizar a fotossíntese. mas uma amiga me chamou pra comer chilli. aí quando vi, já tinham copos de chopp e de dry martini pela mesa. tinha voltado a ser gente.

sábado, 8 de setembro de 2007

a beata

pater noster,
qui es in caelis, sanctificetur nomem tuum.
adveniat regnum tuum.
fiat voluntas tua, sicut in caelo et in terra.
panen nostrum quotidianum da nobis hodie.
et dimitte nobis debita nostra, sicut et
nos dimittimus debitoribus nostri.
et ne nos inducas in tentationem: sed libera nos a malo.
amen.

hoje

hoje? não sei ainda. eu tava pensando em me matar, mas descobri que é muito difícil se matar no meu apartamento. não dá pra se jogar da janela. não tem corda, e se tivesse eu não teria onde me pendurar. eu não tenho armas de fogo. se esfaquear não parece muito legal. mas alguém me disse que se eu deixar a saída de gás do fogão aberta e me trancar na cozinha pode dar certo. mas o gás tem um cheiro insuportável. é o cheiro que eu sinto por todos os lados quando eu estou de ressaca. então, resolvi continuar vivo. ainda não sei o que vou fazer. qual é o plano?

scrap a juliette lewis.
08.IX.07

o mágico

a bíblia é um livro curioso. se tu falas com um católico e pedes pra ele te explicar o fenômeno da reprodução de um mamífero através de uma costela, ele vai logo dizendo, "calma, calma, isso é metafórico!". e depois eles ainda querem que tu acredites que jesus era mágico.

sexta-feira, 7 de setembro de 2007

etnia inferior

(...)

não vou nem comentar essa história de etnia inferior - não tem antrópologo escroto do mundo que diria uma coisas dessas! mas até que o verso é bonito. coloca ai mais dois ou três desses que dá pra compor um belo poema anti-modernista.

(...)

eu não quis refutar a tua tese sobre a etnia inferior. eu só disse que ficava bonito num poema. quem sabe de jornalista escrota tu não passas a poeta gente boa. acho que até o george bush compraria os teus livros!

(...)

por falar em fúzil em baixo do travesseiro, não me lembro onde li - mas foi ontem, ou quarta - uma matéria sobre um porco três metros e 500 kg - alguma coisa do tipo. o melhor de tudo foi a foto do porco (ou do elefante, não sei como os biólogos conseguem diferenciar um do outro) morto, e sobre seu corpo o algoz: um americano de 12 anos com um rifle na mão. sobre a violência, acho que é isso mesmo. fizeste uma arqueologia da violência nos estados unidos, mas pelo que tu falas, etnia inferior é a humana mesmo. conheço um cachorro, um personagem de quadrinhos chamado dogbert, que diz numa de suas tiras: "eu gostaria de ser editor. pegaria trabalhos que levaram anos para serem escritos e acabaria com eles com uma pinçelada de minha caneta". e depois, na última tira, olhando com desdém para o leitor: "acho que não gosto muito de gente". estou com hobbes, maquiavel, nietzsche e dogbert.

scraps à lilian witfibe.
s/d

cinema

fiz um curta em homenagem ao lennon. como é fácil virar cineasta, músico, escritor, hoje em dia (na quarta, vi uma entrevista do domenico de masi na cultura, em que ele conta que um amigo dele diz "eu não compro obras de arte abstratas! eu mesmo as faço!"). eu baixei um programinha e roubei as cenas do youtube (raríssimas). meu único trabalho de fato foi fazer a montagem. tentei fazer uns cortes do tipo “os idiotas”, e pronto. peguei uma das músicas dele, escolhi um fragmento e depois toquei de trás pra frente, com um efeito delay no começo e no fim, e ai está o meu curta. tô esperando a yoko ono me processar. mas se nada disso der certo, amanhã de manhã o "the albert hofmann's experience" estará lançando orgulhosamente seu primeiro álbum: a hard days night!

scrap à linda eastman.
s/d

árbitro de xadrez

ser árbitro de xadrez só é divertido quando alguém joga as peças pra cima, sai ofedendo todo mundo ou ameaça o adversário de morte (acredite, eu já vi tudo isso acontecer). normalmente é fazer cara de homem sério e honesto, e ficar andando pra lá e pra cá, fazendo de conta que está prestando atenção em tudo. eu prefiria arbitrar uma luta de boxe.

scrap à uma thurman.
s/d

sexta-feira, 31 de agosto de 2007

o batismo

pesquisei no wikipedia mas não encontrei o significado de “felizes para sempre”. pelo menos na página tinha algo sobre a felicidade dos imperialistas espanhóis do século XVI:

“já era noite alta quando francisco pizarro decidiu executar atahualpa. depois de ser conduzido ao lugar da execução, atahualpa implorou pela sua vida. valverde, o padre que havia presidido o processo propôs que, se atahualpa se convertesse ao cristianismo, reduziria a sentença condenatória. atahualpa concordou em ser batizado e, em vez de ser queimado na fogueira, foi morto por estrangulamento no dia 29 de agosto de 1553.”

judeus

malcolm: sim. concordo com você. judeus têm mesmo uma coisa de se ajudarem. no século I, por exemplo, ajudaram jesus a reencontrar o seu pai. se gugu liberato estivesse por lá, cobriria o evento e todo mundo ia ficar emocionando acompanhando tudo pela televisão.

marlene: mas também jesus vacilou. foi ingênuo. como todo filhinho de papai.

longevidade

o dr. albert hofmann fez 101 anos em janeiro último. e ele diz que o segredo de sua longevidade se deve ao hábito de comer um ovo cozido e tomar uma dose de lsd todas as manhãs. acho que a parte do ovo deve ser mentira.

31 de agosto

hoje é o dia internacional do blog. achei isso uma coisa meio difícil de entender. fui pesquisar. o wikipedia diz que 31 de agosto é o dia internacional do weblog por ser a data que mais se parece com a palavra blog. não entendi nada, mas como não poderia deixar de ser, deixo aqui minha singela homenagem ao blogueiros de todo o mundo. a tira foi encontrada no blog de jef cândido, "aja ou compre ações", que por sua vez deve ter sido encontrado em um outro lugar (mas estou com preguiça de encontrar dados sobre a fonte original). segue minha dádiva e que sejam todos felizes para sempre! (ps. depois vou procurar no wikipedia o que significa "felizes para sempre".)

quinta-feira, 30 de agosto de 2007

noções de etiqueta

marlene: mas medo mesmo sou eu quem provoco. não sei porque. por exemplo, um amigo meu acabou de me dizer que não é mais pra eu deixar mensagens pra ele no orkut. acho que ele pensa que minhas mensagens são amaldiçoadas ou vai ver que acredita que eu não tenho noções de etiqueta ... eu posso?! eu hein!

malcolm: olha, marlene, não é mais pra você deixar mensagens pra mim no orkut. suas mensagens são amaldiçoadas e você não tem noções de etiqueta.

mário quintana

voltando atrás contra o millôr, contra a gangue da pqp e contra mim mesmo: fumar não é um vício idiota coisa nenhuma; fumar é uma forma de arte! talvez a maior delas! mário quintana já dizia sabiamente: "desconfia dos que não fumam: esses não têm vida interior, não tem sentimentos. o cigarro é uma maneira sutil, e disfarçada, de suspirar".

alguém tem um cigarro ai?

CAPÍTULO I: A EXPULSÃO
eu pensei que seria mais divertido, mas acabei de ser expulso da seita orkutiana “vá fumar na pqp”. tudo porque criei um fórum convidando os seus seguidores a dar uma passeio na postagem “será que posso fumar no meu blog em paz?”. eles são realmente alérgicos a discutir suas idéias com estranhos. suas mães devem ser pessoas orgulhosas.

os fóruns “já te queimaram com cigarro?”, “meu tio fuma muito”, “fumante devia comer a bituca!!!”, e similares, continuam lá. firmememente. não é o clube da luluzinha, mas parece.

felizmente, antes da expulsão, ainda deu tempo de eu receber e copiar o comentário de um desses fanáticos para preparar uma resposta. aqui está o comentário de marcelo (provavelmente o autor da denúncia que resultou na minha expulsão):

“Pois é, o próprio sujeito que defende o fumo reconhece que fumar é um vício idiota. E ainda esquece de mencionar que o fumante além de arruinar o próprio corpo, arruina também o dos outros com esse vício idiota. Então já está mais no que na hora de se acabar de uma vez por todas com esse vício nocivo, babaca e idiota. Fumantes, vão fumar na PQP e parem de encher o saco dos outros com essa porra.”

CAPÍTULO II: A RESPOSTA

marcelo pqp faz alusões ao texto de millôr fernandes, citado na postagem já mencionada. li, copiei, escrevi a resposta no word, mandei pro fórum e quando cliquei no botão "enviar", percebi que alguma coisa tinha dado errado. voltei pra página principal da seita, e ai pude constatar o óbvio: eles não gostaram de mim. já tinha sido expulso de salas de aula, de bares, de apartamentos, mas de uma seita foi a primeira vez. confesso que estou até meio emocionado.
segue a resposta:

“caro, marcelo.

nós reconhecemos que o hábito de fumar é um vício idiota. não há dúvidas. mas o texto do millôr é tão dificil de entender assim? ninguém está defendendo o fumo, mas o fumante - e o direito, assegurado por lei, que ele tem de fumar. este país também é meu, e segundo as regras constitucionalmente estabelecidas, eu ainda tenho esse direito.

dou-lhes uma idéia: mudem as leis deste país, como fizeram os americanos na década de 30, em relação ao consumo de álcool. aquele bang-bang foi genial. ou façam como os brasileiros, que com o mesmo tipo de ato, fundaram a maior multinacional do mundo: o narcotráfico (pelo menos, neste ramo da economia, ninguém pode duvidar de nossa competência).

pra terminar, eu não fumo ao lado de não-fumantes; eu não ando com não-fumantes; eu não ando, sequer, com boas companhias. e só não vou fumar na pqp, porque tenho um blog pra fumar em paz. não vou, portanto, de acordo com as tuas próprias palavras, arruinar o seu corpo. se bem que isso seria uma brincadeira divertida.

saudações de um fumante ortodoxo.”